Tenho de reconhecer que umas férias ou um fim de semana sem trabalho já vinham muito a calhar quando vou almoçar a casa de uns amigos e, enquanto espero o café, sentada no sofá com os demais, adormeço. Assim. Sem mais, nem menos. Adormeço. Encosto a cabecinha para trás, cruzo a perninha, viro-me para um dos braços do sofá, meto as duas mãos, juntinhas, debaixo da cara e... durmo! Quando acordo, uma boa hora e meia depois, estou sozinha, com uma mantinha por cima e à média luz. Ouço foguetes (m-e-d-o) e lembro-me que devem ter ido ver a procissão. Portanto, decido passar pelas brasas só mais um bocadinho. Estou quase, quase a entrar naquela dimensão do "ai onde é que eu estou... ai tão bom... que levezinho que se caminha aqui" quando todos entram na sala. Abro os olhos, tento compor o cabelo, sem grande sucesso, diga-se, e ajeito o vestido. Em coro, descansam-me. Não ressono e não me babei. A bem dizer, talvez a única parte mais deprimente tenha sido quando deixei cair a cabeça e depois a levantei e estava de boca aberta. Era o espanto... o sonho devia ser bom! Surgem teorias de incontestável valia científica, sendo que me detenho na que resume o meu estado ao "afilamento de nariz". Traduzindo, veem-se uns olhos lá ao fundo, não resultou pôr uma sombra que promete abrir o olhar, as maçãs do rosto estão mais pálidas que a cal de uma parede e o nariz parece mais afiadinho. Prova, provada, diz quem perfilha a teoria, que ando a dormir pouco e mal e que sou gaja para andar um tanto cansada. Refaço na minha cabeça a última semana. Reconheço que não foi fácil. Desde um deitar tardíssimo e cedo erguer até uma montanha russa emocional capaz de abalar estruturas de betão, a coisa não foi famosa. Entretanto, com maior nitidez, vejo que, ontem, por exemplo, me levantei às sete, trabalhei até muito depois das duas para acabar uma apresentação, não me lembro do trajecto até à cama, mas sei que não desconsiderei a importância de pôr o despertador para as oito e desde essa hora até ao meio dia e meio estive a tentar mentalizar-me que não, ninguém vai sair ao fim da primeira meia hora de aula. Porque, afinal, a minha maior vocação é ser actriz (psicotécnicos dixit) e eu vou convencê-los que adoooro dar aquela matéria, adoooro estudar aquela matéria, amo de paixão ter de debitar teorias e autores, nem sou muito mais dada a casos da vida nem nada, estou a realizar um sonho. Começa, então, a fase dois do "não te armes em boa, que a vida está cá para te pôr no teu lugar não tarda". Arrepios, espirros, uma temperatura, uma voz mimenta. É gripe, segundo a mãe. O pai, mais pragmático, lembra que quase sempre passo pela fase de ficar afónica. Penso, com a minha cabeça a ferver: sou professora, falo, preciso de som na voz, pá! Recomendações mais que muitas. Que me deite, quentinha. A mim, este estado "deitadinha a baixo" pede muito mais que isso. Bem... também não podia pedir isso que ainda tenho aqui muito que ler até amanhã à tarde. Mas, dizia, não é deitar-me quentinha que me há-de curar. Tudo se conjuga para esse grande cenário de mimo, chá de erva cidreira e maçã cozida. Se estiver mesmo muuuiiito mal, um caldinho de arroz. Mas também não estou às portas da morte. E não sei fazer caldos. Assim sendo, fico-me pelo resto. Já aqui tenho o chá. Na cozinha já cheira a maçã cozida. De tempos a tempos, faço-me mimos no cabelo e digo-me "amanhã já estás melhor, vais ver". Não me dou beijinhos porque já acho um bocado de mais. Mas compunham o cenário, não se negue. Se sou piegas? Também. Mas a sério que hoje nem estou a ser fiteira. Dói-me tudo. Tudo. Dos pés à cabeça.
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