terça-feira, 22 de novembro de 2016

Eu não lhes chamaria nuvens...

Eu não lhes chamaria nuvens, mas apenas porque sou uma pessoa do Inverno e a quem as nuvens só trazem boas sensações. Capaz de passar dias inteiros fechada em casa, a ver a chuva a cair lá fora, com uma chávena de chá na mão e uma manta nas pernas, trabalho e descanso melhor no Inverno, nos dias que não reclamam uma algazarra que não me apetece muito, em regra, fazer. Não gosto de praia, não gosto de tomar banho e ficar logo suada de tanto calor, não aprecio especialmente roupas de Verão, não morro de amores por esplanadas, por isso, eu sou uma pessoa do Inverno. Só por isso, notem, é que eu não lhes chamaria nuvens. A maior parte das pessoas, no entanto, é assim que o conhece e, por isso, para facilitar a identificação, vou falar dele como período de nuvens. Negras e densas. Daquelas que, por mais longínquas que fiquem, apagam tudo cá em baixo. Pois bem, não sei como é convosco, mas eu tenho alturas em que parece que só vejo nuvens, que só há nuvens, que teimam em não desarredar com as nuvens, que durmo e acordo e elas só fazem crescer, as nuvens. São alturas em que não há chá que me valha, nem manta nas pernas, nem trabalho e nem descanso, só nuvens. São alturas em que o céu se abate sobre mim e me esmaga como se eu não passasse de uma barata. Tonta. Ando há meses assim. Com umas nuvens do demo a rondar-me, em forma de doença, fogo, desarmonia, impaciência e falta de coisas. Às vezes, pior, com falta de pessoas, mas, felizmente, tem sido mais raro. Não sei como é convosco, mas sempre achei que se gritasse, esperneasse e mandasse um murro na mesa, a coisa melhorava. Não melhorava nunca. Por isso, de há uns tempos para cá, passei a calar as nuvens em mim. A fechar-me, em conchinha, à espera que passem. A fingir-me de morta, para ver se me esquecem e abalam para longe. Dizem que é a melhor estratégia. Aguentar e calar. Aprender, reflectir na aprendizagem, mas calar. Guardar fundo a lição. Não alardear. Estou a fazer como me mandam. As nuvens não passam. Vão devagar. Parecem paradas. Há dias em que olho para cima, ponho as mãos na barriga e só penso: estou a fazer tudo bem, porra... podem ir embora?! Queria paz e sossego. E saúde e os meus. E alegria. E poucas bocas. E que as nuvens abalassem. Queria que só me restasse o Inverno. O meu, do Natal. Para mostrar ao F. como, caramba, isto aqui em baixo vale mesmo a pena. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Amor é

ir passar uma noite fora, porque tinha de botar faladura bem cedo e bem longe, e receber a seguinte mensagem do meu marido:

"Descasquei duas romãs só para ti. Deixei-as no frigorífico, numa taça com película aderente."

Coisas

Ganhou o Trump! No mesmo dia, assistimos em directo a um episódio do CSI gravado pela RTP. Está tudo virado do avesso. 

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Today


Às vezes, ponho-me a pensar no que faria se fosse americana. Por não gostar particularmente de nenhum, nem lhes reconhecer especial habilidade e/ou competência para o cargo a que se candidatam, não me restaria solução outra se não escolher o mal menor. Não acho que Clinton seja a pessoa certa, mas ter Trump a comandar os destinos da América é coisa para me fazer temer (ainda mais) o futuro. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Voltámos


Voltei. E não vim sozinha. É a notícia do ano, a maravilha da vida a acontecer e a apaziguar as outras coisas que às vezes nos obrigam a pôr em perspectiva o que é isso da vida. Soube que estava grávida no dia 31 de Agosto. Confirmei com três testes. Pus o meu marido louco. De lá para cá, o pequeno F. tem apanhado valentes sustos e eu não tenho conseguido organizar suficientemente a cabeça para escrever seja o que for. Passo por aqui. Tenho uma vontade grande de transformar isto novamente em diário, mas ainda não tinha conseguido. Ontem, foi o B. que me perguntou se não estaria na altura de voltar. E talvez esteja. Porque sobrou vida, apesar dos sustos por que passámos, e isso é o mais importante. Desde a última vez que por aqui passei, despedi-me de um emprego, tive o meu pai internado em estado grave (não está bom, mas está melhor), vi o meu melhor amigo perder tudo, excepto a vida (a dele, a da mulher e a dos filhos) à conta de um filho da puta de um incêndio que abriu telejornais, deixei de comprar uma casa, redefini uma série de prioridades e tomei, com o B., decisões que mudam o nosso futuro mais próximo. Soube sempre, apesar de tudo, em todas as tardes passadas no hospital, em todas as noites de insónia, em todos os serões em busca de soluções, que havia um bebé a caminho e que isso, desse por onde desse, era o mais importante. O pequeno F. está bem e recomenda-se. É um matulão e ainda hoje lhe ouvi o "trote" do coração. Posso quase jurar que se mexeu no sábado, mas dizem que ainda é cedo e pode ser impressão. Visto as mesmas roupas de antes, excepto uma coisa milagrosa que se chama cinta de grávida e que nos dá um conforto danado debaixo da barriguinha. Ainda não engordei, mas temo que esse feito não dure muito mais tempo. Tive quase quatro meses de sono incontrolável e há dias em que tenho tanta moleza que só consigo dar aulas sentada. De enjoos, conto apenas três semanas, mas já me deram bem para o gasto.  Tenho uns pais agarrados à ideia do primeiro neto e embevecidos pela nova fase desta vida em família, um irmão mais mimento que nunca e um marido que, nestes meses de tantos trovões, tem sabido, como mais ninguém, transformar os momentos em que estamos juntos em arco-íris de esperança. É o melhor pai que se pode dar a um filho por nascer e o companheiro que a vida, tão cheia de si, me trouxe a tempo de ser feliz assim. Aconteceram muitas coisas, mas, sobre todas elas, há a vida a crescer aqui dentro e isso, aconteça o que acontecer, há-de ser sempre o que fica, no fim dos dias, para sempre.