quarta-feira, 31 de maio de 2017

Maio


Gosto mesmo de Francisco. Já o vi ao vivo em Roma e acredito que não é por acaso que pede sempre que rezemos por ele. Escolheu um nome que me diz muito e que também escolhi para o meu filho. Por isso, ter Francisco em Fátima só pode ter sido, para quem lá esteve, um momento tão único como os momentos mágicos, de tão raros, que há na vida.
Gosto muito da música "Amar pelos dois" e muito antes de eu ouvir falar no Salvador já o meu filho adormecia ao som da voz da Luísa Sobral quando canta o Senhor Vinho. Há um qualquer fascínio do meu filho pela voz da Luísa e, especialmente, por esta música.
Maio estava a ser um mês generoso.
Depois o meu filho adoeceu pela primeira vez. Disseram-me que tinha de ser internado imediatamente, picaram-lhe os bracinhos pequeninos e enfiaram-lhe um cateter na mãozinha que só estava habituada a beijos e mimos. O meu filho esteve enfiado num tubo para fazer um exame e ficou com uma nódoa negra no pescoço porque tiveram de lhe tirar sangue da jugular. Vi tudo. Vimos tudo. Eu e o pai. Segurei-o para o aspirarem e passei horas a garantir que a máscara do oxigénio estava no sítio. Dormi uma semana sentada num cadeirão do Pediátrico. Conheci mães que vivem no hospital, que vão a casa a cada três ou quatro ou seis meses. Não fiz amigos, mas o meu coração ficou um bocadinho com cada um dos miúdos que conheci e que, caramba, estava tão pior que o meu filho... quando o meu filho, com seis semanas, já não estava nada bem. Pedi aos amigos que rezassem e que, se não soubessem rezar, se pusessem a torcer por nós. Vi a nossa família mobilizada porque o seu mainovo estava ali. Contei, mais uma vez, com um marido que, teimoso, me mandou dormir uma noite, tomar um banho decente e ganhar, assim, força para mais uns dias. Nunca tinha estado internada. Passei uma semana na maternidade porque tive o meu filho e passei uma semana no Pediátrico a acompanhar o meu filho. Ter um filho está a fazer de mim muitas coisas. Uma delas é esta - SER mãe. Antes e acima de qualquer outra coisa. Maio foi, apesar de tudo, um mês bom. Estamos em casa. Estamos bem. Estamos todos. 

sexta-feira, 5 de maio de 2017

E o terço, caramba?!



A Joana Vasconcelos criou um terço para a comemoração do centenário das aparições. O terço é, na minha modesta opinião, uma ode ao mau gosto, suspenso ali numas coisas, a despropósito. Veio entretanto a público a notícia de que o terço gigante não seria inédito e que numa localidade brasileira o que mais se conhece são terços gigantes pendurados entre dois paus ou coisa que o valha. Caiu o Carmo e a Trindade. Entre acusações de plágio e uma defesa esfarrapada da artista, a coisa tem tudo para marcar a obra pela negativa. Ora bem, eu já fui ver coisas da Joana Vasconcelos e gostei. Lembro-me do sapato com panelas, por exemplo, do bule de ferro forjado ou do piano de meia cauda em croché e até, de certa maneira, do candelabro de tampões. Mas este terço é muito mau. E vem depois daquelas tiradas poéticas sobre o que a Joana levaria na mochila se fosse uma refugiada e em que a artista referiu as jóias e os cadernos e os lápis de cor... A Joana tem, numa linguagem que usamos cá por casa, virado um bocado à esquerda. Ultimamente, tem sido cada cavadela sua minhoca. O terço, enfim, vem por acréscimo. O discurso dela em Fátima é, então, a cereja no topo do bolo. E assim deixa de se apreciar uma artista. É uma pena. Passou-se. 

Le Pen

Uma pena se ganha!

Baleia azul

Sou só eu a achar assustador que miúdos informados e esclarecidos se metam numa coisa destas?! Venho-me perguntando sobre a informação e o esclarecimento que andamos a dar aos nossos filhos... Perturbador!

Hoje mais do que ontem e menos do que amanhã

Ninguém nos diz que o amor pelos filhos, aquele assim que é maior que o peito e não cabe cá dentro, não nasce no parto. Quando um filho nos nasce, há muito que nos nasceram já expectativas. Uma delas é a do "amor de mãe". Também eu a tinha, convicta desde o início que esse "amor de mãe" não seria maior, nunca por nunca ser, que o amor que tenho ao meu irmão. Tenho um irmão mais novo onze anos e dedico-lhe, desde que nasceu, o meu amor mais profundo e genuíno. Aquele amor desinteressado e que se espanta com o seu agigantar, esse amor, esse eu já o experimentava há 25 anos. Capaz de dar a vida por algumas pessoas, punha a cabeça na linha do comboio pelo meu irmão e sem hesitar. Criei com ele uma cumplicidade que ultrapassa as arrelias e que supera os silêncios. Somos, mais que irmãos, apaixonados um pelo outro. Acreditava, pois, que nada superaria isto. Que amores imensos eu conhecia já outros, pelos pais, pelo marido, enfim, mas que este "amor de mãe" era o que eu dava ao meu irmão e ponto final. Sucede que o meu filho nasceu e eu só o amei. Era capaz de por a cabeça na linha do comboio por ele, passei a primeira noite em claro a decorar-lhe as feições e descobri nele um perfume que transborda doçura, mas eu só o amava. O meu "amor de mãe" não era ainda um espanto a acontecer. Só os dias, a calma da vida a retomar o seu curso com um filho na bagagem, a paz do encontro que acontece sempre que ele acorda e reconhece o som da minha voz, só isso, assim, a vagar, me mostrou que o "amor de mãe" não nasce no parto. O "amor de mãe" não é nem maior, nem menor que os amores que eu já senti, assim desses que nos enchem a alma. O meu "amor de mãe", pelo menos o meu, é tão simplesmente uma coisa toda diferente. É amar na continuidade do amor que nos temos, como ritual de renovada esperança a cada momento. O meu "amor de mãe" sou eu e está fora de mim, transforma o que eu era e adivinha o que eu ainda não sou. O meu "amor de mãe" só faz amansar-me os dias e adoçar-me a vida. Hoje mais do que ontem e menos do que amanhã, o meu "amor de mãe" é um caminho à minha frente. O meu. Só nosso.

1 mês de KikoMi

O meu filho fez um mês na quarta feira. Fomos jantar fora e o pai trouxe bolinhos. Estive tentada a deixar-vos uma fotografia dele, mas desisti. É demasiado precioso para o expor. Como as coisas melhores, as mais de dentro, bem lá do fundo, quero-o guardado para o que tenho como certo: a vida real. Há, nas visitas ao blog, muita gente que me conhece, que nos conhece. Há também muita gente que, não nos conhecendo, só nos envia boa energia. Mas eu sei lá se não anda por um aí um maluco que me pega na fotografia do rapaz e a mete em sites patifes?! Assim sendo, guardo o meu filho dos vossos olhares, mas conto-vos que já dorme quatro horas seguidas de noite (quase sempre!), que adora tomar banho, que tem crises de stress quando lhe dá a fome e nessas alturas é capaz de até chuchar na palma da mão (!). O meu filho é loiro e tem um remoinho no alto da cabeça. Tem uns olhos grandes que engolem o mundo todo quando se abrem e me aquecem o coração de tão felizes. O meu filho sorri, inesperada e reflexamente, quando lhe dou beijinhos repenicados na bochecha ou quando o pai lhe faz ginástica com as pernas. KikoMi dorme sempre com as mãos para cima, posicionando invariavelmente a direita debaixo da cara. Faz bolinhas com saliva e treme todo quando espirra. Odeia quando lhe meto o soro fisiológico no nariz e ainda não se habituou a cortar as unhas. Fez um mês na quarta feira.