terça-feira, 19 de outubro de 2010

O valor do que não é


Há histórias que não são. Não foram. Talvez nunca venham a ser. E, no entanto, olhá-las de fora dá-nos a serenidade de lhes reconhecer um valor incalculável na nossa vida. Uma história que não é, não foi e talvez nunca venha a ser pode, ainda assim, ter feito despertar sentidos que julgávamos irremediavelmente adormecidos, vontades e ânsias novas. Uma história que não é, não foi e talvez nunca venha a ser pode ter na nossa vida o eco das melhores viragens de página, do mais doce recuperar de nós mesmos. Uma história assim pode deixar-nos para sempre gratos pela mera luz de um amanhecer de um dia que não é, não foi e talvez nunca venha a ser. São as histórias em que tudo o que fica sabe a conquista. Conquista da consciência que é para andar em frente, que o passado é para ficar lá atrás. São histórias que não são e, no entanto, serão sempre essenciais na nossa rota dos sentires. São histórias que, não sendo, não tendo sido e talvez nunca vindo a ser, nos fazem acordar com um "valeu a pena" a balançar no peito, com um sorriso a brotar dos lábios e a certezinha de que, não sendo, não tendo sido e talvez nunca vindo a ser, têm um valor que nem dá para medir. As pessoas dessas histórias mostram-nos, só por existirem, que há mais mundo para além do que sempre julgámos ser o Universo todo inteiro. Porque nos dão uma história. Que não é. Que não foi. Que talvez nunca venha a ser. Se um dia a história ganhar a dimensão de ser, então, talvez seja a história melhor da vida. Aquela por que esperámos sempre, sem saber. Se não, então, que não seja. Basta-lhe isso para já ser inesquecível.

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