quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Da felicidade

Ainda hoje me perguntaram se era sempre assim, se acabava sempre a chorar. Respondi a verdade. Disse que nos últimos dois anos talvez se contem pelos dedos os dias em que não chorei. Sossegadinha,  caladinha, sem alarde, enquanto via o problema a nascer ou na hora em que arrumava mais um e podia fechar mais um pouco a gaveta. E, no entanto, acrescentei, perdi a conta aos dias em que fui feliz nestes dois anos. Quando tens de viver sempre com um problema que não consegues resolver, só podes ir resolvendo, uns dias mais, outros menos, aprendes a aproveitar tudo o que te dá felicidade, aprendes a encontrá-la em quase tudo. Na saúde dos teus, nos abraços, nos sorrisos, nos mimos, nos dias em que, mesmo que chores tu, consegues poupá-los para que não chorem eles, nos dias que amanhecem, nas luas altas das noites em que não dormes e te sentas na varanda, embrulhada numa manta, a beber chá quente e a pensar se não haverá mesmo uma solução milagrosa. Aprendes a viver para lá do problema, a viver com ele, apesar dele. Reages. Nem todos os dias tens força, nem todas as vinte e quatro horas de cada dia acreditas que vai passar, mas aprendes a gerir os pardos e a pintalgá-los de pink. Quando a vida te dá um problema grande para administrar, podes perder o norte e a capacidade de te concentrar numa tese de doutoramento, angustiar-te com o futuro, temer o pior, mas não morres. Se o problema não for de saúde (e o meu, maior, neste momento, não é), aprendes a precedê-lo de um "felizmente", não por apoucamento de expectativa, mas por te obrigares diariamente a entender as dádivas que te chegam por estares vivo. Os mortos não terão problemas. No fundo, no fundo, pensemos bem, apesar de tudo, é um preço demasiado alto a pagar pelo sossego. E chorar faz parte. E desesperar faz parte. É da vida. 

3 comentários:

  1. Vejo que a R. precisa mesmo de ir a Viena espairecer.

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  2. Chorar faz parte, mesmo. E faz bem, desanuvia!

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  3. Até suspirei a ler este texto. É mesmo isto: tem de se ir vivendo... e chorar faz mesmo parte, tal como faz parte o realizar que poderia ser melhor, é verdade... mas também poderia ser tão pior (pode sempre...)
    Beijinho*

    Viena é linda ♥

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