quinta-feira, 31 de maio de 2012

Vou contar-vos que a vida, às vezes,

é insuperável na arte de nos surpreender. Para o bem e para o mal, poucas coisas me têm fascinado mais que as coincidências e os improváveis da vida. Corria o dia 26 de Março quando recebi, de uma das minhas pessoas, um mail generoso, quentinho, doce e amigo. Vinha no assunto um coração e a informação de que se tratava de uma adenda a uma conversa que tínhamos tido dias antes, a matar saudades e, pelo menos no que toca a mim, a sedimentar certezas de que as pessoas da nossa vida nos podem, mesmo, chegar dos sítios mais estranhos. Sou moça dada a dúvidas frequentes e vivia, ao tempo, uma dessas que não nos dá grandes dores de cabeça, mas que não deixa por isso de marcar a sua presença. Custosa presença, que as dúvidas, mesmo as miúdas, consomem energias, tempo e serenidade. Somos muito diferentes e... depois... vendo melhor, somos até parecidas. Está ela, porém, uns sérios passos à minha frente na arte de contornar obstáculos e faria certamente com êxito mais evidente qualquer cadeira que desse pelo nome de Casting. Errou, ao que sei, uma vez, mas calha a todas. É, para muitas, no entanto, o pão nosso de cada dia e, para outras, a excepção que lhes atesta a regra. Dizia-me, e com isso não cometo inconfidências, que, apesar do que me tinha dito nos dias antes, as pessoas chegam à nossa vida por alguma razão. E dava-me tantas boas razões, vá, eram só três, mas eram mesmo boas, para aproveitar a chegada até de quem me pudesse semear as dúvidas. O timing não podia ter sido mais perfeito, mas os seus enormes préstimos duraram pouco, que em menos de nada se me revoltavam até as certezas, quanto mais as dúvidas. Ficou tudo do avesso. E, apesar disso, foi nos escombros que encontrei as melhores e as piores verdades. Só poucos e eu sabem o que foi aquele outro dia. Mau. Péssimo. Mais que mau e péssimo. E os outros. Como quem mora sete palmos acima do chão e, ainda assim, não vê claro, tem falta de ar. Ficou-me a vida escrita em forma de cagada em três actos. E eu que me orientasse. Durante anos fiz de anja, defendendo sempre que o que estava mal, o que havia sido mal entendido, o que havia sido dito impropriamente, as peças baralhadas, era tudo obra minha. Muito disto deixa dificuldades grandes em aceitar que às vezes não somos nós quem falha. Mas também deixa calo para quando se aceita. A custo. A muito, muito, muito custo. E das dúvidas, nem sinal. Recambiadas para o sótão das minhas prioridades, não me lembrava tão pouco delas. E assim passaram dias e semanas em que as esqueci. Quando, finalmente, em hora de inventário, as repesquei, olhei-as como quem encontra o brinquedo preferido mas sem o qual viveu quase toda a infância. Têm o seu papel. Mas já não pode ser o mesmo de quando não sabia que podia bem viver sem lhes prestar atenção. Tem sido por isso que me tenho mantido suficientemente calma para não me deixar levar por elas, como em decisão sensata de quem sabe que só quem mora no Convento sabe o que lá vai dentro. Não tenho, apesar disso, conseguido convencer mais ninguém de que não há em mim espaço sequer para essas dúvidas. E tenho ouvido, lido e decifrado a asneira sem tamanho que me prenunciam por esta falta de engenho. Caio, influenciável, uma ou outra vez, na tentação de me fingir na dúvida. Fecho os olhos e penso: tu estás na dúvida, pequena R., tu estás na dúvida, claro que tu estás na dúvida. Mas não estou. Não posso estar. Não mereço estar. Não quero estar. Preciso de acreditar que, ao menos nisto, um dia voltarei a poder não estar na dúvida. Porque isso é que é mesmo bom. Não carregar ses e mas às costas. E não é mau, nem pior para ti. É só diferente. Como me ensinou aquele mail de 26 de Março, com ou sem dúvida, restam-me algumas certezas: 1) há gajos porreiros! Mais que isso, impecáveis! Que nos merecem, que nos respeitam e que podem ser o nosso homem; 2) não é só porque são gajos porreiros que temos de achar que é por ali, principalmente quando o nosso coraçãozito diz que não está convencido...; 3) sobrevive-se feliz e contente sem eles e sem medo de se ficar sozinha. Gosto meeeeesmooo de ti. Muito. Mas não tenho dúvidas. E acho que ficas feliz por isso... agora que eu sou uma "tua pessoa"!

2 comentários:

  1. Caramba!! :D

    Queria dizer muita coisa... mas pronto! Digo-te só que estou contente... no fim vai tudo bater muito certo e eu vou estar cá para ver!

    ResponderEliminar
  2. E também há gajas impecáveis, gajas que aturam tanta coisa que já devem ter um lugar reservado no Céu e tudo. :)

    ResponderEliminar