quinta-feira, 17 de maio de 2012

Das pessoas virtuais às pessoas reais

Sempre fui um tanto céptica relativamente aos benefícios do mundo virtual para acreditar que, desse, transportaria para o meu, real, pessoas que passariam a ser muito minhas. É sabida a minha resistência a entrar no mundo facebookiano e a falta de atenção que devoto àquilo. Raramente me dispus a sinalizar-me com verde nas conversas de chat do e-mail. Ontem percebi que já me tinha esquecido que um dia tive uma coisa chamada msn (notem o quanto lhe ligava). Fiz um curso superior já no século XX e mantive-me durante os cinco anos que durou sem qualquer computador atrelado a mim. Havia um computador em casa dos meus pais, mas raramente o usava. Cultivo o mais que posso as conversas olho no olho em detrimento de qualquer moda mais moderna de ligar câmaras e falar por skypes ou coisas dessas. Nunca, na sequência disto, entrei num dos muitos chats de relacionamentos que por aí há, fosse para conhecer gente ou ver só como funcionava aquilo. Mas não sou bota de elástico. Acho que não sou. Tenho dois amigos casados há dez anos e que se conheceram pela internet, em pesquisas comuns sobre uma cidade para onde pretendiam ir estudar. Tenho outra amiga que diz ter encontrado o amor da vida uma vez que estava a ver fotografias de uma festa de uma colega no computador e bateu os olhos num homem que jurou viria a ser seu. É. Há 12 anos. Tenho um blog. Já me apaixonei por uma pessoa que conheci porque também tinha um blog. Tenho algumas minhas novas pessoas conquistadas primeiro por aqui. Portanto, eu não posso dizer-me desconfiada relativamente a isto. Mas. Pois, como numa série de outras coisas, também nesta o meu discurso tem um mas. Não é o mas moralista que a primeira frase podia anunciar. Não. É um mas bem mais comezinho, um mas que se baseia numa coisa muito simples: por aqui, sabemos do outro que existe e, gostando do que nos diz e de como nos faz sentir, mais umas coisas a seu respeito. Em princípio, não fazemos confidências a alguém que nunca vimos e não acalentamos por gente que pode, até prova em contrário, ser um personagem, muito mais do que, quando muito, paixonites agudas que são boas para despertar os sentidos, mas pouco mais. (Certo, concedo, já me aconteceu essa troca de confidências duas vezes com pessoas que nunca tinha visto, mas a verdade é que essas pessoas também tinham um blog e, apesar de tudo, estou com quem diz que é muito difícil manter um personagem por anos a fio, pelo que os blogs, sobretudo estes assim, como o meu e o dessas pessoas, inevitavelmente, têm muito do que somos.) Pelos blogs, acho eu, sinceramente, cria-se uma espécie de laços. Há pessoas que nos acompanham durante demasiado tempo para que possamos ignorar que já sabem muito de nós. Há uma cumplicidade, até, que se escora nos comentários, no conforto de saber que há quem nos apoie e torça por nós em momentos difíceis, quase sempre sem cobrar-nos mais explicações que as que damos, e em sabermos que ficam felizes, contentes, vá, quando uma coisa nos corre bem. É talvez por isso que gosto tanto de ter um blog. É muito por isso que me assusta, como há pouco tempo disse, a ideia de muita gente a seguir-me. Gosto de ir controlando as minhas pessoas blogosféricas com algum desvelo, absolutamente incompatível  com a massificação dos seguidores. Mas isto são os blogs. Ninguém me tira da ideia, até que me prove com factos, que podemos crescer em pessoas, ganhar amigos, conhecer amores, o que seja, por esta via, se, naturalmente, a isso se seguirem os passos todos normais, consequentes e serenos, que compõem as relações que valem a pena. O blog não passa, pois, da esquina da vida em que nos esbarrámos, não tendo de acarretar com a enorme responsabilidade de ser o palco inteiro da história. Mas, dizia eu. Ora, mas isto já não pode acontecer assim quando se conhece alguém de quem não se sabe nada e se pulam etapas, se marcam encontros da primeira vez que se falam, sem se saberem nomes reais, sequer, ou, sabendo-se, quando isso serviu apenas para se vasculharem bocados da vida no livro das caras. Tenho medo dessas aventuras. Não me imagino a vivê-las. Nem pela adrenalina. A sério. Posso sempre dedicar-me a outras coisas em busca dessa necessária adrenalina, sei lá. Há gente doida, neste mundo. Há mentes com muitos problemas, pessoas. A minha limitação genética para estas andanças já se percebe bem pela incapacidade que mostro nos dates, mas se sou assim em dates (Até parece que passo a vida nisso... mas não passo, mesmo. Sobram-me vários dedos de uma mão se me puser a contá-los!) com pessoas que têm amigos em comum comigo, de quem já ouvi falar ou que, pelo menos, acompanho há meses pela escrita, não quero imaginar o camadão de nervos (ou não... que eu sou estranha) em que mergulharia se me desse para ir encontrar uma alminha de quem sabia apenas o nick do chat onde nos falámos uma única vez... e tumbas, vai de marcar encontro! Chamem-me medricas. Deve ser isso. Mas não concebo, pronto!

17 comentários:

  1. Também tenho um bocado medo desses encontros que surgem apenas de uma conversa. Felizmente, também sou medricas e não me ponho nessas aventuras.

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  2. Nem tudo neste mundo virtual é mau! Há por aqui muitas pessoas boas, assim como também há pessoas com más intenções, é só preciso ter alguns cuidados e o resto há-de correr bem :)

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  3. Acho hilariantes as cenas de encontros online e afins. São uma palermice.
    O amor acha-nos, não somos nós que o encontramos. Acredito nisto.
    (Mas, bem vistas as coisas, pode achar-nos em qualquer lado, até online.)

    Hot dates apart, já marquei várias vezes encontros com pessoas que só conhecia de contextos online - mas eram encontros de amigos ou conhecidos e nunca (nem pensar!) outra coisa mais. Ou porque queríamos trocar um livro, porque havia uma ideia para discutir que precisava ser pessoalmente, porque depois de trocas de e-mails descobríamos ser vizinhos(as), porque vínhamos a saber que trabalhávamos perto... sei lá. Não se pode é ser ingénuo e NUNCA partilhar dados pessoais!

    R.zinha, o amor anda sempre por aí a ver se te apanha desprevenida. ;)

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    1. Oh minha Raquel, mas isto não aconteceu comigo. Achas?! Tal como digo no post, nem sei bem como raio funciona o esquema de ir com esse (seja lá o "esse" o que for) tipo de intenção. Como bem sabes, por exemplo no facebook não aceito gente que não conheço realmente, excepção feita a ti durante uns tempos pequeninos (mas já tínhamos trocado muitos mails) e à N. (porque é tua amiga e já me tinha mandado um mail lindo de morrer e dado acesso ao blog e mais não sei quantas coisas). Além disso, nunca fui para nenhum dos ainda poucos encontros com pessoas do blog (porque é a única forma, na minha vida, virtual de conhecer pessoas) com qualquer outro interesse genuíno que não fosse o de conhecer aquela pessoa porque temos os tais interesses ou pessoas em comum, enfim. Aliás, estive aqui a pensar e só conheci pelo blog gente que ou era daqui, ou tinha estudado aqui, ou tinha amigos em comum comigo... Agora, a verdade é que depois as relações com essas pessoas mantêm-se (ou não) e algumas (muitas, felizmente) evoluem, progridem... razão pela qual, no meio dessas progressões, às vezes, o amor pode dar as caras e tumbas, pegar-nos de jeito, achar-nos, vá :) Portanto, podes estar descansada, que não me meti em nenhuma cena estranha com desconhecidos :)

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  4. eu é não marcava encontro contigo ;-)


    erva doce

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  5. ahahahah eu sei, és toda cuidadosa! :)
    beijinhos

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  6. Também me adicionaste no FB e não me conheces :D

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  7. Oh Kelle, mulher, pois é!!! Mas mais grave, mesmo grave, é ainda não nos termos conhecido pessoalmente depois disso. Não há direito... Temos de tratar desse pormenor importante :)
    Beijinhos***

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  8. tinha escrito um comentário tão jeitoso e isto crashou. vou tentar de novo.

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    1. (tardou, mas cá está. era mais ou menos isto, mas melhor)

      a minha experiência diz-me que é muito fácil enamorar-me por esta ou aquela pessoa que escreve no blog xpto ou que apareceu do nada naquela rede social ou onde quer que seja. é muito fácil "falar" via internet porque estamos protegidos atrás de um computador, no conforto de casa, e até é possível esquecer de erguer as defesas pessoais, tão comuns em discurso directo. há muitos smileys e poucos olhares. e isso é bom? depende do nível de entrega de ambos, mas por incrível que pareça, é possível saber-se muito mais a respeito de alguém com quem nunca se esteve cara a cara do que com uma pessoa que conhecemos há muito. não digo isto como incentivo ao contacto, até porque prezo muito os meus rins e sei que há muita gente que joga com o baralho todo, mas por vezes pode ajudar a libertar algum peso dos ombros e isso já é mais agradável.

      mais; de todas as pessoas que alguma vez falaram comigo, para além de simples comentários no meu blog, e que consigo contar com os dedos de uma mão, conheço apenas duas delas pessoalmente e o contacto que temos actualente é quase inexistente. não passou de um fogacho social sem grande significado e honestamente não vejo problema nisso. a adrenalina nem é tanta assim quando já existe uma série de conversas trocadas. acho que é só mais uma forma de conhecer mais gente, aliás, a propósito disso, escrevi uma vez:

      "Ainda assim, o derradeiro interesse ao utilizar as redes sociais é o da socialização. Pode parecer redundante, mas, ao promovermos determinado evento, determinada obra ou determinado tema estamos também a promover o interesse pela conversa (em vez do post), pela participação, pelo contacto directo. É a passagem de testemunho do virtual para o real."

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    2. No geral, concordo contigo! Só acho que a dada altura, se gostamos de conversar com a pessoa e se já criámos esse laço de intimidade que nos permite falar de coisas mais sérias com ela, se deve promover o encontro real. Mas isto tem a ver com cada um de nós e com a forma como nos relacionamos. Mesmo depois de se conhecerem, de até serem amigas, algumas pessoas preferem falar pelos chats do e-mail ou por mensagem. Eu já dei muito para esse peditório. Não me importo de o fazer, mas preciso de equilibrar isso com o contacto real.
      Finalmente... andaste a escolher mal as pessoas para encontrar pessoalmente. As 4 pessoas que conheci pelo blog renderam-me amigos queridos, sinceramente :)
      Beijinhos*

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    3. eu não escolhi pessoas, elas é que me escolheram. não sei bem que imagem passo no blog, mas calculo que "não bata a bota com a perdigota" e imagino agora que o problema seja mesmo esse, estavam à espera de uma coisa e saiu-lhes outra. e sou defensor do contacto físico, real, cara a cara, mesmo sabendo de todas as facilidades que a internet oferece. até digo mais, depois de ter tido uma namorada em paris e, mais tarde, de ter vivido em praga, agradeço muito às novas tecnologias e os seus meios de comunicação, mas nada bate o contacto real.

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    4. Somos dois! Nada bate o contacto real :)

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  9. Face ao exposto, só tenho a dizer, quando vieres à cidade apita. Juro que não mordo. Não é Raquel Úria? ;)

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