Saí de casa cedo porque tinha orais para fazer. Depois de ter andado uns 5 km caiu-me uma forra da parte de baixo do carro. Voltei a medo com aquilo quase a fazer faísca. Mudei de carro. E fui à minha vida. Destilei algum veneno. Mas eu não era assim. Abrir os olhos faz-nos piores. Estava sol. Muito calor. Sinto-me tão mal com este calor insuportável. Tentei formalizar a inscrição no Doutoramento mas pareceu-me que havia parido a galega para aqueles lados. Desisti. Conversei com amigos. Estive com eles. Olhei-os nos olhos. Em poucas coisas me empenho mais do que em ser amiga dos meus amigos. Falhar nisso é uma ferida que não me quero abrir. Podia voltar a casa. Tinha trabalho por aqui à minha espera. Saí a Porta Férrea. Estava pensativa. A entrar, calmamente, uma doutoranda que defenderia hoje a tese, grávida. Uma barriga indisfarçável. Parei. Olhei para trás. Um homem, pareceu-me o marido, pediu-lhe que parasse em frente à Porta Férrea "para um retrato". E aquele retrato será, à primeira vista, a mais fiel reprodução da mulher que eu quero ser. Fiquei, sem vergonha, a olhá-los e a vê-los. Passou muita gente nesse momento. Só vi um tipo de polo castanho, mas sei que passou muita gente. Respirei fundo e avancei para o carro. Pensei naquela imagem muitos minutos. Continuava a estar muito calor. O carro em que fui hoje não tem ar condicionado. Abri as duas janelas da frente e cuspi cabelo. Pensei. Ver por fora é pouco; é quase nada. Há casos assim. Gente que parece ter tudo e a quem, afinal, falta o essencial. Quando vemos, não ficamos a saber da missa metade. É isso. De repente, começou a chover. Limpei uma vez o vidro e depois deixei-o encher-se de gotas gordinhas. Tive pena de as rasgar, mas já não estava a ver bem. Limpei o vidro outra vez. E vi o arco-íris. Eu não via o arco-íris há muito tempo. Mesmo nos dias em que ultimamente me dizem que apareceu, eu nunca pude vê-lo. Hoje, vi-o. Tão bem. E então, repesquei um pensamento e fui feliz a decidir os meus essenciais. Um dia, se os concretizar, posso sempre dizer que tive um cúmplice. Porque hoje eu vi o arco-íris. Eu quero muito ser feliz. Ser feliz nos momentos de balanço. Quero saber que, postas as crises num prato da balança, há sorrisos e mimos a chamá-la à razão. Eu quero que me encontrem e não me deixem fugir. E quero que isso seja o meu momento de maior sorte. Porque se um dia eu puder, por exemplo, defender uma tese de doutoramento gravidérrima, não vou esquecer-me de pedir a quem me tiver achado para não me deixar fugir, porque estava na hora de me fazer feliz, que me tire um retrato.
Post muito bonito!
ResponderEliminarJá agora... ontem devemo-nos ter cruzado no Palácio dos Grilos porque também estive por lá (não para renovar a matrícula, e se tudo correu bem pela última vez... ME-DO) mas para pedir a porcaria do certificado de habilitações do mestrado que nunca pedi e só descobri isso agora!!
Para a próxima meto conversa com quem estiver à minha volta!
beijinhos
Ah ah ah... E começas assim "Olha lá e o post de anteontem?... Estavas um bocado em transe, não estavas?". Se a pessoa arregalar os olhos de medo e fugir... é uma blogoexcluída... Se piscar os dois olhos ao mesmo tempo (tenho dificuldades em piscar só um...) e sussurrar um "Guilhim, és tu?"... sou eu :)
ResponderEliminarBeijinhos*