domingo, 13 de setembro de 2009

Arrivo

As minhas costas apitam. São mesmo elas. Porque ala com o cinto, fora o relógio, adeus tudinho. Uma camisola de algodão. Oops... ai, se calhar apita o fecho do soutien. Tentativa francófona de explicar que sou pessoa que costuma usar interiores. Mas não. As minhas costas é que apitam. Juntar a isto escalas de quarto de hora, corridas entre terminais como se fosse a concurso com o Carlos Lopes e insultos ditados para dentro na hora de dar o apagão ao ecrã que informa sobre a porta.
Tem calma, R. Maria. Tu és uma pessoa ponderada. Tu sabes que não te vai acontecer nada. Tu podes jurar que não andas a traficar plantas secas entre os rins e o baço e és menina para explicar às mal-encaradas que apitas porque o homem do detector está mortinho para te ver a passar novamente.
Chegámos bem, pois foi... e isso é que conta. Consegnamos um Panda branco que nos havia de guardar os medos pelas terras ermas da Toscana. Bora lá para o sítio, que por hoje chega de emoções. Olha... é esta saída. E agora, esquerda ou direita? G., não sei, meu bom rapaz. E és tu que levas o carro. No fundo, eu descarto-me de qualquer responsabilidade. Embora aponte para a esquerda. Eu também. Oh cum caraças que estamos a voltar para trás e não dá para inverter (vamos agora considerar, porém, que ao segundo dia já tudo será permitido naquelas estradas... não falhando a bela da multa por pagar, nem nada). Janta numa piazza de Firenze. Noite piccola a espreitar a Ponte Vechio.

Dormia-se bem, naquela cama. Mas pouco. Ai que medo. Ligo a tv e, de dois em dois minutos, perguntam se não quero ver um filme para adultos. Não, senhores, que sou moça recatada. Fora de casa, mas de cabeça assente, que me recomendaram juizinho.
Os maiorais lá do sítio rendidos ao calção e à havaiana, trocadinhos com os nomes resumidos a R. e Max e Tea... que parece que fomos todos da mesma sala na pré. E eu a abanar a cabeça. Olha o tempo que a gente perdia se isto se fizesse lá no nosso auditório. Ainda agora íamos na introdução dos títulos do professor doutor, distinto, magnânimo e espectacular...
Ar rufia com a entrada da pessoa. Mais nova, junto com os demais dois cá da nação, mas a mais nova ainda assim, pareceu-me arrancar suspiros de pena acompanhados de teorias sobre o que pode tamanha piquena saber de criancinhas!
Viagens a muitos lugares não esquecidos. Reconhecimento de novos caminhos. Comeu-se bem. Provou-se a amizade tamanha de quem cede a uma triste que não arrisca para lá do sumo de laranja espremido da fruta.
(Sou perita em abandalhar o glamour. Imagino o tipo rendido a como ela é tão... ai sei lá... Ora vamos lá marcar um queijos e vinhos e pode ser que venha de salto agulha e maquilhagem provocante. Trim. A porta a abrir. Sorriso largo, do baixo do metro e cinquenta e pouco, sapatinho de rés do chão, carinha lavada e hidratada com o único creme que não faz alergia. No auge da loucura, vá... um baton de brilho, que o homem merece. E depois, é não esmorecer. Era tirar-lhe o casaco. Qual tiras!? Em Agosto, durmo de meias! Se me tiras o casaco, perdes hipóteses! Ora então escolhi este tinto frutado, cor de não sei quê e da casta não sei das quantas, vais adorar. Pois, mas para mim era um sumo de laranja natural, espremido da fruta. Não é natural de sem gelo, é mesmo natural da laranja. Se não tiveres, não faz mal, bebo água. Queijos? Gosto pouco. Mas se tiveres pão, manteiga e um micro-ondas já me desenrasco. Para rematar, qualquer coisa como "nadar, nadar, até nado, mas não gosto da parte funda das piscinas. E não mergulho, porque imagino que vou bater com a cabeça". Tentativas seguidas de me por a andar já a passarem-me pela cabeça, com tendência para me culpabilizar por não ter treinado qualquer coisa sobre os vinhos da região ou ter arranjado uma gripe para suportar o queijo da serra sem o arredar discretamente. E, nisto, nada. Ora, então, vou andando. Não vou tirar mais tempo à criatura. Já se viu que não está é com imaginação para a tirada. E, nisto, fica. E pronto... levava-me ao altar. Que na Toscana estávamos entre amigos e já me custou não acompanhar o G. nas demoradas escolhas de cada acessório de comida. Mas ele é meu amigo, gosta de mim e... pronto... não tem de me gramar todos os dias. Já uma coisa assim para os sete dias da semana, escapadinhas ao Douro ou viagens ao estrangeiro, com tendência para soltar a franga noite dentro à beira mar ou no cimo de uma montanha com suspiros regados a flutes, só mesmo com amor é que resiste assente em palavrinhas kikas e festinhas de cabelo enquanto, um pedacito aproveitadora, questiono se não dá para me trazer um chazinho de camomila e uma mantinha, que me estão a começar a dar dores nos tornozelos.)
Enterrou-se e desenterrou-se gente. Falou-se de tudo. Somos, indiscutivelmente, uns palradores de marca. Mais uma vez, um jeitaço nestas coisas de ter um amigo gajo. Porque põe logo as coisas preto no branco e aponta logo os dois caminhos possíveis. E não fala mansinho. Diz mesmo que isto da vida é coisa para se viver só com quem merece muito. Tudo escrutinadinho. Que também sou, modéstia à parte, menina para dar um arzinho da minha graça quando chega a hora do consultório sentimental.
O stress, o horror, o macarrónico inglês treinado exaustivamente com expressões tão complexas como "water" e "please". Estreiazíssima internacional. E pronto. Não fiquei traumatizada. Mas apetece-me mais experimentar noutra língua.
Por falar em língua, desenferrujadinha que a trago na mais bela do mundo, o italiano. Ma come! E doppo... troppo...

Comprinhas à Firenze, logo na rua giusto vicina à Ponte Vechio. E tuditudi e mais dois presentes de natal. (Sim, C. e P., os vossos vieram de lá!) Loja dada à finesse, com uma dona que não sabia mais o que me havia de fazer. E eu... dada à boa vida. E o G. a opinar sobre cores e tamanhos e feitios e se dá com tudo e se não desmaia na pele e pronto... um verdadeiro assessor de compras!
Fotos à carrada. G. de passo em passo a gritar "vou tirar-te uma de costas para pores no blog". E, portanto, em grande parte, do que há registo é da parte de mim que apita! E viagens um tanto loucas. E muitos quilómetros em poucas horas. E pendura exemplar. E um jantar de gala a que chegámos atrasados. (Mas, à custa de me ter ido desculpar com a organização, tive de ouvir o G. choramingar a sua sorte por se fazer acompanhar de uma croma! Custava-me chegar atrasada, alapar e assobiar, só isso!)
Entretanto, insultos de queque para baixo. Porque os brincos chocalham, porque a carteira é cor de rosa, porque estava numa de me chatear.
Aventuras:
1) "Ai então vem de Portugal. Ah, que interessante. Vai falar em inglês, certo? Sim, é a língua da conferência. Ai ainda bem, que não sei falar e nem sequer percebo espanhol!" (vezes dois... sim... isto foi-me dito duas vezes)
2) Entornei uma chávena de café por cima, nada mais nada menos, que de uma juíza de carreira australiana que era assim tipo das mais importantes figuras lá do evento.
3) Passei uma viagem de elevador, do 5.º andar ao 0, com um inglês a elogiar o meu verniz dos pés!

E mais? Há gente com muita pinta por aquelas bandas. Mas... descoberta que ficará para todo o sempre: uma mulher, por mais elegante que se apresente, perde toda a sua beleza se se tiver esquecido de hidratar os pés, maxime, os calcanhares. Ficam a parecer, tipo, de Aquiles!
E voltar a casa. E muita vontade de umas quantas coisas. Ideias para o doutoramento. Tema em esboço...
À chegada, depois do acagaçamento de mais uma viagem de avião em que apertamos tanto as mãos que ficamos sem circulação sanguínea até aos cotovelos, um sinal. E foi vê-lo acender. E sorrir. E ficar por aí. Porque a vida, ah pois é, é para ser vivida só com quem vale muito a pena. Sobretudo, naquela parte de viver os sete dias da semana, os meses todos, os anos até nos finarmos. Sobretudo, naqueles momentos em que não deve ser preciso dizer nada com a boca, ocupada com outras vidas (a maluca). Sobretudo, quando for para dizer "Amo-te" bastas vezes!

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