terça-feira, 22 de setembro de 2009
Camilla Milla
Era uma vez um tempo. Camila não reconhecia as manhas desse tempo, mas sabia bem que elas existiam. Tinha perdido alguns amigos, embora estivessem todos bem. Estar longe é, nestas coisas dos abraços e palavras afinadas pelo acerto de um momento, uma maneira de não estar. Com os amigos, é assim. O tempo, este novo, tinha levado alguns para lugares a que se chega por estradas mais facilmente do que por olhares. Não lhe foi fácil aceitar o desígnio, mas muitas coisas diferentes em que pensar ao mesmo tempo roubaram-lhe a disponibilidade mental para se formatar uma nova tentativa. Mais uma. Trouxera-lhe, esse presente, a ternura de novas piscadelas de olhos e trejeitos de lábios. Reconhecia nestes um espaço grato na parte nobre do coração. Mas não era preciso arrancar ninguém dum espaço feito para crescer. O tempo, contudo, não lhe sobrava nesses projectos de se amansar na culpa de não estar. E, no entanto, era tão presente o presente que lhe chegava. Os amigos, mais ou menos como os vícios, podem bem acumular-se. Os amores, às vezes, também se acomodam em fratrias. As memórias, porque escarro de maus dias e pintura de horas boas, cabem-lhe e assentam-lhe. Mas o tempo, o de Camila, camelo, tinha feito das suas. Passaporte de viagens sem partida. Caminho ermo de pessoas. O tempo, às vezes, Camila, o teu também, camelo, leva-nos para longe até de quem está ao nosso lado. Outras vezes, traz-nos, junto com a distância, a vontade de ficar, ou de partir, só de jeito de não largar.
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