Para a Xana.
Ontem, na recepção aos caloiros feita na minha faculdade, um dos veteranos dizia que da faculdade não se levava só um diploma e de Coimbra não se levavam apenas conhecimentos. Nada mais verdadeiro. Ganham-se pessoas, acrescentam-se emoções, descobrem-se caminhos, arriscam-se sensações, vive-se... Quem por cá tiver passado e não lhe tiver sabido a pouco, quem nunca se tenha questionado o absurdo daquele tempo ter de ter um fim... não viveu isto como deve ser. Pelo menos, como eu acho que deve ser.
Para ti, que me esperavas à porta do 37 quando eu me atrasava a descer, que estavas lá na noite em que (shiuuu) achámos que era boa ideia atravessar a Sereia, que sabias quando eu precisava de acabar a noite a deitar conversa fora numa paragem de autocarro, que me curavas as gripes com doces, que aturavas as minhas neuras em véspera de exame, que me bateste à porta do n.º 11, da Via Maffi, que partilhaste quarto comigo nos últimos seis meses, que me pedias conselhos quando o grande programa era ires com uma certa pessoa tomar café ao Girassolum... Para ti, que me acompanhavas nas serenatas que fazíamos na Padre António Vieira, em frente à casa do Billy, que alinhaste quando eu achei que a minha vida podia mudar se batessemos à porta do João Marcos a meio da noite, que me puxavas para as noites de fado, que me mandavas postais nas férias e sms nas vésperas das melhorias, a dizer que eu só tinha de provar ao professor que o petróleo subia por minha causa. Para ti, que estavas comigo no dia em que o meu carro quase explodiu na Ladeira do Seminário, que ficaste ao meu lado em todos os bailes de gala e não me abandonaste, apesar do ar de Maria Antonieta, em todos os Chás Dançantes. Para ti, que esperavas comigo até de manhã, nos Saraus, para ver a Pitagórica, que nem discutias quando suspiravamos ambas pelo mesmo gajo da Estudantina. Para ti, que compreendeste sempre a minha incapacidade para me arranjar para ir para o DD, porque sempre achei que não valia a pena arranjar-me para entrar num antro de fumo e perdição. Para ti, que acedeste a dar meia volta quando eu sufoquei e achei que quinava se não me tirassem da Via. Para ti, que todas as Latadas repetias "é desta", comigo, em cima da Ponte, a olhar a Cabra, que cantavas ao som do Quim até de manhã, que não deixaste de gostar de mim quando perdi o Trivial porque não sabia de que olho era cego o Camões. Para ti, que quando vias que eu não ia às aulas, percebias logo que tinha torcido um pé, que ias comigo à sessão da meia noite do Avenida, na noite dos namorados, que me acompanhavas aos teatros das companhias vindas do cu do Mundo, só porque podia ser que até fosse giro, que nunca te furtaste a uma Magna ou a uma tosta mista das amarelas. Para ti, que me mandavas ter juízo quando me dava para emprestar apontamentos a gente que me tratava tão malzinho que é uma pena...
Para ti, que houve um tempo em que pareceu que tinhas ido para mais longe e depois, afinal, foi só uma impressão, ou uma fase má, vá. Porque eu não poderia imaginar perder a pessoa que me traçou a capa pela primeira vez, me fez um laço no cabelo com o grelo, soltou as fitas comigo, me bateu na cartola com mais vigor, me acompanhou desde as sete da manhã, na escada da Via Latina, à espera da última serenata e me viu chorar até os olhos darem ares de eu me meter na ganza com força.
Podia ficar mais uns três meses a escrever coisas que me viste fazer, me adivinhaste sentir e me obrigaste a esquecer... mas acho que isto já dá uma ideia. És uma das minhas pessoas. Nunca te esqueças. E pronto... se fosses gajo e não houvesse um N. na tua vida, a esta hora estavas a ver como é que me pedias em casamento, não é?!
R. Maria,
ResponderEliminarConsegui dizer "espera só mais um bocadito" à minha cama para responder ao teu post ainda hoje, sob pena de o mesmo não merecer o devido apreço, o devido carinho...
Agradeço-te R.por todos aqueles momentos, que permanecem sempre vivos na minha memória, e que ainda hoje suscitam saudade, muita saudade, e gargalhadas, muitas gargalhadas, porque relembram tempos felizes, verdadeiramente felizes, e algumas lágrimas...porque relembram que foram únicos, e que foram vividos intensamente.
Obrigada pelo torrão de caramelo que um dia recebi na sala de leitura, pelo rasgão da capa...
pelo encontro no segunda dia de aulas, pelo apelo à consciência de que devia ir a todas as aulas, mesmo que fosse para ouvir duas vezes a mesma matéria (sobretudo numa certa cadeira do 4º ano)e mesmo que fosse para vir directamente da disco para a faculdade (que doidas!!!), sabendo eu que iria sucumbir ao sono lá para os primeiros 10 minutos de aula...Obrigada pela orientação quanto ao teor de certas sms que enviava para o destinatário daquela música...Obrigada pela música...pelo ombro amigo, tão preciso quando começava a conversa do "mas porquê?", que acabou por ser o tema recorrente dos 5 anos da nossa vida (podia dar para pior!!!).
Obrigada pelas sessões de teatro onde eu, tal como hoje, não resistia ao sono, mesmo com senhores sem vestes no palco...
Guardo com muito carinho todos esses momentos preciosos, porque foram únicos, porque são meus, com muito orgulho e sem qualquer arrependimento.Porque são nossos, e só nós conseguimos compreender a dimensão da sua importância, só nós conseguimos lembrar e achar piada às serenatas ao billy, às investidas ao João Marcos, às promessas de "este ano é que é!", ao apelido que acompanhou aqueles 5 anos - "as mongas" - tão nosso, tão nosso que não pesava, não castigava, era motivo de alegrias, lágrimas, sonhos e confidências partilhadas...pois só assim podia ser, pois só assim podia ter sido.
Parecia estar destinado aquele nosso encontro...
P.S. Ouve a seguinte música:"Dacing in the dark" - At Freddy's House
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