As palavras

Segundo o padre de ontem, há três palavras essenciais num casamento. No casamento como experiência de vida comum, como partilha diária do melhor e do pior. Nunca tinha conseguido sistematizar isto na minha cabeça... confesso que também nunca tinha tentado. Mas ontem, cada palavra, seguida de cada respectiva explicação, fez tanto sentido... Deve ser mesmo assim. Sobretudo se entendermos, como ele disse, que o amor não pode ser feito só de afectos, mas de decisões. Os afectos, sozinhos, são mesmo lirismo. Uma espécie actual de amor platónico, mais ou menos comprometedora da vida de cada um... mas pouco determinante do seu amanhã. Gosto dela, mas agora tenho de me concentrar na tese. Acho que o amo, mas ainda sou nova para já me ligar a alguém em definitivo. Por agora, acho-lhe graça, divertimo-nos juntos, faz-me feliz... depois logo se vê... se aparecer alguém que me dê mais... Diz o padre... e eu até acho que tem razão... que não há amor que resista a uma falta de decisão, a uma ausência de atitude, a um dia depois do outro sem objectivo diferente de... a ir levando... à vida. E é por isso que há determinadas coisas pressupostas na atitude de dizer "eu quero", "eu fico", "eu amo-te". As principais, parece, são a capacidade de dizer desculpa, porque ninguém acerta sempre, de verbalizar um obrigado, porque a vida assim partilhada deve ser bem mais leve e... esta sim... a grande novidade, a nobreza de nunca omitir um parabéns, genuinamente felizes porque a nossa pessoa alcançou uma vitória, concretizou um sonho, esboçou uma nova ideia e renasceu com isso, completou mais um ano e continua a eleger-nos para partilhar o que lhe acontece em cada dia, um depois do outro, todos, para sempre.