quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pequena R., irritada no seu limite, põe o dedo no nariz a um senhor mal educado...

Eu precisava de um peixinho grelhado. Precisava. Mesmo. Só peixinho. Nada de batatas (Não gosto. Só fritas... mas isso é pecado...). Só peixinho e uns verdes para ter o prato compostinho. E lá fomos, em parelha, procurar mesa num canto famoso pelo peixinho. Estávamos na praia. Não era assim nada do outro mundo querer peixe. Mas pronto... Uma fila como da biblioteca geral ao parque verde (vá, menos um bocadinho... digamos do Politeama ao arco da Rua Augusta, pronto)... Pequena R., moça gentil, oferece-se para ir buscar mantimento de revistas cor de rosa. E vai. Pelo caminho acena à senhora da fruta. Chega ao quiosque e está o dono a debater-se com um caramelo a gesticular e a falar francês. Tinha um postal de um barco, a tirar as redes, e queria um poster. Lá percebi e respondi que não havia. Pergunta-me, então, já em inglês (?!), se há numa casa mais abaixo. Respondo que não. Vai a sair e diz para o filho "A gaja diz que aqui não há e lá em baixo também não!". Estive para lhe mandar com o porta moedas no meio dos olhos, mas tive medo de não me fiarem as revistas e eu precisava delas. Paguei. Jurei ao senhor que não tinha nada que agradecer e que lhe gabava a paciência para aturar cromos daqueles. Ponho pernas ao caminho, para subir a rua. Como sei bem que as filas em restaurantes demoram a andar, ainda tenho tempo de passar no estaminé de uns amigos. Beijinhos à família e coisa e tal. Estou bem e recomendo-me. Pois, então a família também vai boa. Sim, em Coimbra. Não foi bem questão de sorte. Farto-me de trabalhar. Mas pronto. Já nem ligo. Quase a chegar ao restaurante, sou abordada por uma das minhas últimas "clientes" sazonais. Lá pergunto se está tudo em ordem e se o namorado da filha já se mancou que não, não tem direito a metada da casa da moça só porque lá dorme. Hello, tá tudo tolo?! Que sim, mas aquilo ficou tremido. Pudera. (Homem da minha vida, se no meio do amor me perguntares se podes ficar com o faqueiro que a minha tia A. me deu, acredita que a nossa relação também vai ficar tremida. Gosto do faqueiro. E tem valor estimativo. Percebes?!) Chego finalmente ao destino. Uns cinco minutos de espera a torrar ao sol e lá entramos. TODA a santa hora de almoço com um galinhaço insuportável. Na mesa atrás da nossa, um tipo armado ao pingarelho que berrava (atenção: berrava) que se não o deixassem pagar a conta fazia um escândalo e atirava um sapato a quem fosse a passar na rua!!! (Primeiro momento sério de choque!) O peixe é demorado. Foi uma hora à espera. Gritos. Conversas com a mesa do lado oposto da sala, onde, pelos vistos, estava alguém conhecido. O restaurante todo parado. As meninas a pedirem que se contivesse. O dono a lembrar o estúpido que não estava sozinho. Uma hora nisto. Uma hora, pessoas. Uma hora. E que "lá" (lá é aquela entidade estranha a que eles se apegam para indirectamente nos chamarem atrasados mentais) é que é. Estava a passar-me. Na minha mesa estavam emigrantes de há mais de 30 anos. E que eu adoro. Portanto, não me ponham a cabecinha em água (mais do que ela já está)... que o meu problema não é com os emigrantes. É com gente parva. Por acaso, estes eram emigrantes. Por acaso, muitas vezes, são. Por acaso. Pois bem. Uma hora naquilo. Até que decide aumentar ainda mais o volume, ao ponto de eu não ouvir a pessoa à minha frente, da minha mesa. Estão a ver o filme?! Começo a passar-me. Muito. E digo para mim mesma que ou se cala ou eu vou lá. Toda a gente a fazer shiuu... mas escondido. Que parece mal ir por o dedo no nariz ao alterado. Até que... vejam bem... a criatura, com, pelo menos, a minha idade (reconheço que a adolescência é cada vez mais tardia, mas quase 30 já são anos suficientes para se ter algum juízo) decide por açucar no café, encher de ar os pacotinhos da mesa e pôr-se a rebentar aquilo como se fossem bombinhas, aos ouvidos dos companheiros. Pequena R., interrompendo a difícil degustação do seu peixe espada, levanta-se e dirige-se ao caramelo. Com o meu melhor ar de gaja compreensiva, de "está tudo na boa, só te estou a pedir"... digo-lhe que, se não se importasse, agradecia muito que fizesse menos barulho porque, caso ainda não tivesse reparado, estava há uma hora a incomodar os clientes de um restaurante inteiro. E obrigada. Acenou-me que sim, mas porque não devia estar a contar. Até que, pessoas... e isto é que me irrita... quem é que decide vir em defesa da honra do seu musculado macho franciú?! A pirosa da mulher, ou companheira, ou namorada, ou o raio que a parta... E começam as pérolas. Que a gaja não está boa da cabeça, acompanhado do movimento de desaparafusação de neurónios, que há gente que não sabe viver, que Portugal é um país livre e... a melhor de todas... que vivemos numa (atenção aos acentos) demócrácia! Pequena R. é rapariga, sabe quem a conhece, para desatar a rir-se na cara da triste visitante da demócrácia, relembrar-lhe que se lá é que se está bem, a malta de cá agradece que não venham estorvar em Agosto e que é mau exemplo para aquelas pobres criaturinhas que estão ali à mesa falar como se estivessem a tentar ver se alguém percebia que tinham caído numa gruta no meio do deserto do Shara em mês em que lá não passa o rali. Mas não. Pequena R. nem tem tempo de reagir. Lei de Murphy a actuar e a empregada decide deixar cair uma bandeja de louça, o que faz um estardalhaço só superado pelos gritos que se seguiram. Até que a barbie (em mau) decide acrescentar ao seu (segundo ela) ainda pouco rico leque de disparates que aquele barulho não tinha sido o marido a fazer (tão kika... a defendê-lo... mereciam-se). Pequena R., num tom sereno, voz baixinha (técnica de quem tem de dar aulas em salas com 200 pessoas... às vezes, nem sai som da minha boca... até que dizem que não estão a ouvir e eu faço que não ligo e então lá decidem calar-se de uma vez para pescar alguma coisa... Resulta especialmente em fase de dicas para os exames... adiante...) apressa-se a corroborar que "nem sempre, nem nunca". Frases assim densas dão nós cegos nas cabeças de barbies em mau. Portanto... o argumento seguinte é de uma categoria equivalente ao "mas eu quero" de uma criança de 3 anos. Diz ela que "quem está mal, muda-se". E é aqui que, sempre baixinho, pequena R. informa que já perdeu o treino para discussões com argumentos tão rasteiros. Ou a criatura se esforça por nos mantermos ao nível do que uma demócrácia merece, ou eu desisto... ou melhor... deixo-a levar a bicicleta (piada do meu irmão que, quando já não está para aturar alguém, remata os assuntos com um "fica lá com a bicicleta". Tem sentido de humor. É meu irmão.) Barbie e Ken pagam a continha e vão à vidinha deles, fazendo uma barulheira pelas escadas a baixo. Todo o restaurante respira de alívio. Saboreio o resto do meu peixinho. Como sobremesa (estraguei tudo... uma alimentação tão correcta e depois... isso... mas estava tensa). Chego ao chapéu, deito-me para uma sesta (Sim... pareço uma idosa.... Eu durmo sestas na praia. Às vezes, até me tapo com uma toalha... Têm sorte de não levar meias...) e ouço a vizinha perguntar à neta se quer "água seca". Penso que já devo estar a dormir... Mas então passam duas pitas com um rádio que fazia abanar a areia de tão alto que estava. Nisto, só comento com os meus "Ah... já sei. Devem ter aberto as portas do Sobral Cid e a paragem da carreira é na Praia de Mira". E deito-me. E durmo.

3 comentários:

  1. Como eu dava dinheirinho para estar nesse local e assistir a essa cena hilariante!!
    É por essas e por outras q eu tenho cada x mais aversão à praia de Mira... é invadida por estes seres estranhos e quem pensa que vai pra lá de férias, para descansar e desfrutar de uns dias de paz e sossego só assiste a estas cenas!!!

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  2. Duvido... Quando voltei à mesa, estavam todos com um ar de pânico tipo "Esta garota é tola... Então foi-se meter com o gajo?! Ai se ele a apanha..." :)

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  3. Pequena R. em grande :D De vez em quando também me salta a tampa em situações semelhantes e só não parto para a pancada porque sou uma pessoa educada, mas às vezes apetece mesmo. E também não tenho um problema com emigrantes, tenho é um problema com gente parva, que por sinal coincide várias vezes com o ser emigrante! E pronto, posto isto, dois pares de palmas para Pequena R.!!

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