Deduzo que os homens também o façam. Fazem, de certeza. Sentem, até, quem sabe?! Mas o impacto é menor. Em dez minutos, bebemos o restinho do chá, despimos o pijama, tomamos um duche, com uma mola amarela no cabelo, lavamos os dentes, a cara, secamo-nos, vestimo-nos, pomos creme na cara, base e pó compacto. Damos "duas de mão" com o blush enquanto nos calçamos, vamos ao espelho e pomos uma sombra clarinha nos olhos para não ter de se estar com pormenores. Pomos o relógio e umas pérolas pequeninas nas orelhas. Embrulhamos um cachecol à volta do pescoço, escolhemos um casaco que combine os tons da roupa e da carteira e dos sapatos. Tiramos a mola do cabelo. Abanamos furiosamente a cabeça, tentadas pelo absurdo de deixarmos de parecer despenteadas e passarmos a dar ares de "apenas selvagem". Vestimos o casaco, pomos a carteira ao ombro, pegamos na pasta, rodamos a chave e fechamos a porta. Descemos as escadas do prédio, atravessamos fora da passadeira, abrimos e entramos no carro. Ligamo-lo e ao ar condicionado, saltamos uma música do cd que tocava de véspera e arrancamos. No primeiro stop, tiramos o batom de cieiro e damos um ar mais saudável aos lábios. Quando chegamos, sorrimos. Assim... porque treinamos. Treinamos muito. Sorrindo sozinhas, alienadas, de nada. Sorrindo até do que daria vontade de tudo, menos de sorrir. É assim. Porque sim. Não somos loucas na cama e ladies na mesa. Somos espírito de metamorfose. Os homens também. Mas as mulheres é que dão mais ares de ser assim. Só porque sim. E porque às vezes é por trás da pele mais brilhante e do sorriso mais iluminado que se esconde a alma mais magoada. Mas é assim. Porque sim. E, se fosse diferente, não seria eu. Contam-se pelos dedos de uma mão e sobram os que já aprenderam a ler para lá do que é assim. Só poucos, esses, e mais nenhuns. Não sei exactamente porquê. Deduzo que seja porque... sim. E porque há dias em que treino menos.
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