sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Da crise

Tenho vindo a perguntar-me, temendo a resposta, se sairemos desta crise. E, saindo, em que condições o faremos. Ontem, mais uma vez, a pergunta alojou-se no meu cérebro. Não há muito menos que pânico nesta altura por aí, nas ruas. Os Centros Comerciais oferecem a quem passa um espectáculo deprimente, o comércio tradicional, idem. A criminalidade aumenta, mas é filtrada a notícia dela. Mais ou menos como as dos incêndios florestais. Eles não deixaram de existir, ou sequer são menores ou menos preocupantes que os dos Verões vermelhos de 2002 e 2003. Mas filtra-se a informação. Uma espécie de bússola de como nos tomam por lorpas, é esse filtro que, sem grandes contestações, se vai impondo. No fundo, estou em crer que somos como os piores dos cegos: só não vemos mais porque... a bem da verdade, não queremos. O que o Primeiro Ministro anunciou ontem não me dá vontade de o insultar pelo facebook. Por duas razões: primeiro, porque cada vez mais gosto menos da maior parte das coisas do facebook. E, francamente, acho ignorante usá-lo para coisas assim tão sérias. Ignorante. É, aliás, a palavra que me ocorre para as ideias (também peregrinas) de fazer comunicados ao país por essa via. O país não é isso. E é triste que ainda não se tenha percebido. De todo o modo, o facebook é fonte de nervos dia sim, dia também. Ou porque há quem chute trabalho por andar sem tempo para nada e depois se ponha a postar inutilidades de hora a hora, ou porque se criam dramas, se constroem histórias, se desfazem relações por essa via. É tão, tão, tão deprimente que, por incapacidade de viver no Mundo a sério, as pessoas se afeiçoem a viver viradas para um ecrã de computador, sejam capazes tanto de comer como de cagar com o computador à frente, eu sei lá. A segunda razão para não me dar no génio insultar o Ministro resume-se a isto: ele não pode fazer diferente. E é esta premissa que me leva a uma outra, essa sim, causadora de um mal-estar que teima em enfurecer-se dentro de mim: podemos nós continuar a admitir este tipo de veleidades na administração do Estado sem pensar, de uma vez para sempre, num freio democrático que se repercuta, no limite, em responsabilidade civil ou penal de alguns anormais que o país teve a infeliz ideia de um dia eleger para comandar os seus destinos?! Pois. É que parece-me que não. Que não pode ser. Que se começa a impor repensar profundamente a forma como o cidadão comum lida com quem lhe arrasa a economia, a justiça, a educação, a saúde, a segurança social e o resto e depois sacode as mãos e parte, naquela estrada. Alguém tem ouvido falar de José Sócrates?! Não! Alguém tem estudos que nos apurem, sem margens de erro, quando é que as asneiras começaram a afundar-nos sem retorno?! Não! Foi no tempo do cavaquismo, em que os subsídios da União foram mal empregues, foi na era de Guterres, na de Durão Barroso, no Verão de Santana Lopes?! Digam-nos quando! Quando, porra! Não nos amaciem o discurso com amuos paternalistas. Nós não somos crianças. Nem incapazes adultos. E é por isso que me apetece perguntar e me treme o corpo e a alma ao responder-me, até quando vamos nós suportar ser fodidos e mal pagos?! Até quando?! Até quando vai a escumalha poder rir-se por continuarmos a baixar-nos?! Até quando?! É que parece-me que isto já deixou de ter piada. E já se perdeu a inocência de atirar as culpas para entidades indefinidas como o sistema, a conjuntura ou a depressão global. E já não nos apetece rir. Nem ignorar. Pelo menos a mim, a mim já não me apetece. Porque o que é de mais, cheira mal. E isto já fede há algum tempo. Não há, que me lembre, um tipo penal que puna a incompetência. E ainda bem. Porque a incompetência, dita assim, afasta o espectro do deliberado ou, pelo menos, do saber e conformar-se com isso. Há outras formas de chamar esta gente à realidade, de os arrancar das reformas douradas em que se recolheram e de os fazer chafurdar na imundície de que são os principais responsáveis. Porque eu, muito sinceramente, não sou culpada deste crime. Quanto tempo falta para termos, nos bancos da justiça, quem nos burlou descaradamente, quem corrompeu e se deixou corromper, quem roubou, quem ofendeu?! Quanto tempo?! E quantas voltas mais tem o país de dar para no fim não ficarmos todos com um amargo de boca de "estamos na mesma", que é ao que me sabe o Casa Pia, o Face Oculta, o Freeport e outros que tais?! Quanto tempo?! Quanto tempo falta para, ao batermos nos fundo, arregaçarmos as mangas e partirmos para a luta?! Quanto tempo falta para que possa dizer-se estou derreado, mas de alma lavada?! Quanto tempo?!

1 comentário:

  1. Aqui está um belo texto para a tal "croniqueta" ( R..inha dixit)de jornal...
    Sempre achei que as chamadas "redes sociais" são um embuste...uma ilusão que nem sequer é uma ilusão bonita...

    Bj.
    C(EN)

    ResponderEliminar