quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O tempo que passa

Hoje fui ao Centro de Cópias onde ia sempre quando andava na faculdade. Passei, naturalmente, na papelaria lá ao lado, onde comprava os filmes da Heidi e do Marco para o meu irmão pequeno, os lápis e canetas, as folhas pautadas e o jornal, papel de embrulho e romances. Passei para dar um beijinho à Dona L. e ao Senhor F.. A Dona L., que não me via há uns cinco anos, lembrava-se do meu nome, deu-me um abraço apertado, perguntou pelos meus pais e deitou as mãos à cabeça quando expliquei que tinha ido levar umas coisas do mano para fotocopiar. Coisas do mano que era caloiro. O Senhor F. ficou muito espantado a olhar para mim. Disse que os estudantes às vezes se atiram dos Arcos de Jardim e morrem e que são tolos. A Dona L. deixou cair duas lágrimas e disse-me ao ouvido que o marido morava agora num mundo só dele. O Senhor F. então virou-se para mim e pediu que lhe perguntasse se não se lembrava de mim. Engoli em seco e fiz-lhe a vontade. Confessou que conhece todos os malucos do Mundo e deu uma gargalhada. O tempo passou por ele, levando-o sem o levar. Tive de parar uns minutos com a cabeça sobre o volante antes de ligar o carro e seguir para o resto da minha tarde. Há coisas que nos relembram a todos que o Mundo não pára. Que o tempo não dá tréguas. Que o dia de hoje não volta mais. Aquela doença é uma delas. E custou-me muito ver assim o homem que às oito da manhã dos muitos dias de aulas de cinco anos seguidos me disse bom dia enquanto eu subia em direcção à faculdade e ele abria as portadas da loja. Custou-me mesmo muito. E lembrei-me outra vez do que andava a fazer há um ano atrás...

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