segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Homens

Desacreditei-me neles. Tenho uma pena sem tamanho, mas desacreditei-me neles. Levou tempo. Contestei com força o veneno estéril que me ia fazendo desacreditar neles, mas o tempo que dei ao tempo só me fez desacreditá-los ainda mais. Não vou deter-me sequer nas excepções porque, a existirem, notem, a existirem, não passam disso: excepções. O que mais por aí ciranda não são excepções, são uma raça de homens que me fez desacreditá-los contra tudo o que uma alma de princesa sonhou para a vida. Sucessivamente, foram tomando conta do meu tempo os episódios sofridos e os relatos amparados que me fizeram desacreditar neles. Os homens bons praticamente não existem. Mais. Tenho a impressão que os homens bons começam a ter alguma vergonha de o ser. Olhados de lado, não raro rotulados de tótós, uns fracos, dizem os outros. E os homens bons, se existem, vão-se escondendo e vão escolhendo homens maus para modelo. Os homens, como se espera encher a palavra de força, subtileza, garra e amor, morreram. Não vingaram. Sumiram. O que sobrou deles fere de morte quem lhes dedica as atenções e constrange quem foi insistindo que ainda havia homens, que da próxima é que seria. Não falo por mim. A minha revelação devo-a mais aos homens a quem nunca me dei que aos outros, que me moeram sonhos e os fizeram pó no vento. Há meses que os homens se me vão morrendo na crença. Primeiro um, depois outro, a seguir um diferente, todos. Os homens, estes, transportam no peito a imponente angústia de não saberem ser ainda piores, mais cruéis. São muitas coisas, mas nenhuma os define tão bem como dizer que são maus. Os homens, estes, não amam ninguém. Nem a eles. O que não me dá pena. Só me faz desacreditar mais ainda. Tenho pena dos tontos, mas estes não são tontos. São mesmo maus. Cansaram-me a beleza. E agora, desacreditei-me neles. Estes homens insultam, desrespeitam, ignoram solenemente, manipulam. Estes homens jogam um jogo que nenhuma mulher apaixonada sabe jogar. E eu só sei ser uma mulher apaixonada. Por isso, saí de jogo. É que eu desacreditei-me nestes homens que fazem as mulheres a quem fizeram juras de amor chorar dias inteiros, semanas inteiras, meses inteiros. E estes homens cagam de alto para isso. Estes homens não são homens, nem com letra minúscula, e por isso é que eu me desacreditei para sempre. Os homens já não se distinguem por serem altos ou baixos, gordos ou magros, morenos ou loiros, virados para as ciências ou com queda para as letras. Os homens ou são homens ou são os homens de que me desacreditei. E eu não tenho encontrado dos da primeira hipótese. As mulheres podem ser também muitas coisas e podem até fazer sofrer um por outro dos homens, mas os meus últimos meses têm-me provado por A+B que no jogo das maldades perderíamos sempre. Estes homens que se levantam de manhã e caminham pelas ruas do mundo têm pedras a encher-lhe a parte esquerda do peito. E sempre que vertem uma lágrima, posso apostar que engendram uma patifaria pior que a anterior. Eu não sei quase nada. Sei que era azar de mais estar rodeada de mulheres inteligentes, bonitas, honestas, trabalhadoras, simpáticas, boas amigas e boas namoradas ou mulheres e terem calhado em sorte os trastes todos a quem conheço. Tal como a fruta podre, estou convencida que até podem ter começado por ser poucos os maus, mas que contaminaram inapelavelmente os outros. Por isso, são todos fracos. Uns porque sim. Outros porque não se impõem para que não. Os homens a sério não existem. Os príncipes morreram. E, contra toda a racionalidade, deixei de me perguntar porquê. Rendo-me, estafada, à evidência de que não merecíamos. Mais nada. É isso.

6 comentários:

  1. toda a mulher ou homem ferido não é boa ou bom julgador. Há que deixar pousar a poeira. Aguarda o tempo que é sempre bom conselheiro e não desacredites nas excepções...

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  2. Raquel, talvez tenhas razão!
    Beijinho*

    César,
    tal como digo no texto, a minha conclusão não provém praticamente nada das minhas experiências. A minha poeira até já baixou. Não sou eu quem está a ser ferido, mas quem me rodeia. E não é uma, nem duas pessoas. Além disso, porque reconheço que ninguém é sequer bom julgador em causa própria é que não me atrevi a escrever este texto noutras alturas. Mas agora, quando não passo do terceiro imparcial numa série de histórias, caiu-me o mito de uma tal maneira que até dá dó. Onde estão as excepções?! Todas tomadas?! Será possível?! Não acredito. No que acredito, tal S. Tomé, é no que tenho visto. E tenho visto gente que, decididamente, não merecia, mulheres muitos furos acima do normal que por aí se encontra maltratadas, humilhadas, manipuladas, ignoradas, feridas de morte. O que eu tenho visto, na vida dos outros, é que me permitiu chegar ao ponto de descrença em que me encontro. Estes homens que me deixam nos braços frangalhos de pessoas cansaram-me tanto que acho que levaram o último fiapo de esperança nos finais felizes. Já lhes tive raiva, já me questionei muito as possíveis razões para se terem transformado nisto, enfim. Cansei-me de tal maneira que, para me proteger e não dar em maluca, preciso de os ignorar solenemente e de dizer, convicta, às pessoas, que é possível seguir em frente sem eles. Não vale a pena darmos murros em pontas de faca. E, como diz o povo, quanto mais nos baixamos, mais nos vêem...
    Beijinhos*

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  3. este texto tocou-me de forma profunda......mas quero/preciso/acreditar que existem homens capazes....

    E é possivel seguir em frente sem eles, eu sou um exemplo disso segui em frente com uma filha nos braços ( acabada de nascer) e com desemprego... e dei a volta.

    Mas no entanto, confesso, que me faz falta os abraços e um aconhego de um homem.


    erva doce

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  4. Querida Erva Doce,
    gostei tanto que tivesses comentado!
    Parabéns pela volta por cima. És uma inspiração.
    Quanto ao resto, posso dizer-te que até acredito, lá bem no fundo, que existam esses poucos, raros, preciosos homens capazes. Mas, lamentavelmente, não os tenho visto por aí. Não tive a sorte de ser encontrada por um deles e, a somar a isso, vejo as mulheres que parecia terem encontrado um desses príncipes, serem confrontadas mais cedo ou mais tarde com homens maus.
    O texto apareceu aqui porque há muito tempo que a vida não me mostrava de tantas maneiras possíveis como as pessoas podem enganar-nos, como nem tudo o que parece é, como é possível superar a nossa pior ideia de crueldade, fingimento, desrespeito e outras coisas más. Sabes, é que estas mulheres não mereciam. Mesmo. Tal como tu, certamente, também não merecias.
    E isto... olha... secou-me a esperança. Pelo menos por uns tempos...

    Beijinhos, querida! E parabéns pela força!

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  5. Eu sou crente. Sabes que sim.
    E por crente que sou, tenho uma teoria:
    Por cada 10 put@s há uma inocente;
    Por cada 10 c@brões há um inocente;
    Reza a estatística que o/a inocente há de sempre calhar com um dos trastes, ficando contaminado 99% das vezes.
    Quanto mais tempo passa, mas put@s e c@brões há. Daí a realidade ser dura...
    Mas, de quando em vez, os de alma pura lá se encontram. E, por esses exemplos, eu continuo uma crente :)

    p.s.- pardon me my vocabulary ;)

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