quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Tenho saudades tuas

A minha saudade tem o mar aprisionado
na sua teia de datas e lugares.
É uma matéria vibrátil e nostálgica
que não consigo tocar sem receio,
porque queima os dedos,
porque fere os lábios,
porque dilacera os olhos.
E não me venham dizer que é inocente,
passiva e benigna porque não posso acreditar.

Pode ser uma casa ou uma rede
das que não prendem pássaros nem peixes,
das que têm malhas largas
para deixar passar o vento e a pressa
das ondas no corpo da areia.

Seria hipócrita se dissesse
que esta saudade não me vem à boca
com o sabor a fogo das coisas incumpridas.
Imagino-a distante e extinta, e contudo
cresce em mim como um distúrbio da paixão.


José Jorge Letria

2 comentários:

  1. Por estes lados também não está fácil...

    :-)

    ResponderEliminar
  2. É estranho... Há dias em que consulto o seu blogue e penso que me anda a ler a mente!lol É que José Jorge Letria tem me feito tanta companhia esta semana ;)
    Bjinho
    Mónica Domingues

    ResponderEliminar