domingo, 11 de julho de 2010

Vodafone

Querida, não queria deixar-te triste. Afinal, foste tu quem me acompanhou durante toda a faculdade, com um cartão de memória que enfiei em telemóveis ultrapassados porque sempre disse ao pai que podia ficar com os que ele já não quisesse porque era mais feliz sem ter uma coisa que andasse colada a mim e desse para me controlarem tipo chip. Sabes bem que foi a ti que dei dinheiro a ganhar quando ligava horas seguidas para a Xana ou trocava mensagens de quarto em quarto de hora com o David. Não havia nada que pusesse a nossa amizade em causa. Um dia, lembras-te, chegaram os pacotes empresa e eu mudei-me para a concorrência, porque passei a andar com um mono que pertencia ao negócio de papai e ia para uma factura comum. E foi assim muitos anos. Não me dei mal com a concorrência e, melhor ainda, a concorrência não me obrigava, quando estava na terra, a vir falar à varanda da cozinha ou a debruçar-me no peitoril da janela quase ao ponto de cair só para ter um pauzinho de rede. Os amigos também se tinham bandeado para a concorrência e eu, amigas na mesma, despedi-me de ti com um adeus. Quis o destino que caísse, um dia, de amores por uma alma fiel a ti e que, ao segundo ano de uma média de 30 mensagens diárias, tivesse achado que não era má ideia voltar a ligar-te (bom trocadilho, ãh?!). Como tudo o que mais contava era o símbolo das sms, paguei uma pipa de massa para me desbloquearem o telemóvel do "amour" e foi lá que depositei com mágica gentileza o cartão 91 em que repousavam as minhas esperanças mais profundas. Aderimos àquela coisa das 1500 mensagens semanais, conscientes que poderia ainda dar-se o caso de alguma semana termos alguma coisa para pagar por fora, mas éramos ambos grandes e pessoas com rendimentos suficientes para acalentar o vício de jogar conversa fora com uma destreza manual que poria a um canto qualquer concorrente. O telemóvel chama-se chocolate e o som das sms, esse, ouvia-o a qualquer distância. Dei beijinhos no visor e cheguei a dormir agarradinha a ele enquanto repetia "pisca lá, pisca lá". Piscou sempre. Ainda pisca, diga-se. Quando decidi soletrar com solenidade um "f-i-n-i-t-o", ficou combinado que, primeiro, acabava-se a ponte aérea e depois logo se via como se havia de resolver o resto. Adoeceste. Viste que o movimento era menor e o teu coração cedeu. Ias-te a baixo, como que em síncope. E, quando recuperavas, via-se tudo branco, como se me dissesses "casa-te lá". Não casámos. Já sabes, não é? Por ti passaram as nossas maiores crises e as nossas melhores pazes. És apenas um número, de uma rede. A nossa. E, apesar de tudo, devo dizer-te, é quando pondero acabar contigo que há motivos para abrir a pestana. É que, vai-se a ver e, um dia destes, saco-te do chocolate, mando a máquina à fava e atiro-te ao rio. Assim, como nos filmes.

3 comentários:

  1. Ora muit bem tenho 3 motivos nos quais deves refletir antes de cometeres um acto desses:
    1º O teu chocolate foi comprado por mim, era o irmão benneton do meu, e conseguir durar mais 1 anos que o meu!
    2º Dp como comunico ctg? (À pala,claro)
    3º achas que cortar com a rede vai fazer cortares com o resto??

    Vale a pena pensares nisto...

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  2. Eu não vou deitar fora o cartão. São só ameaças. Quando muito, digo que deitei, mas não... para falar contigo, a C. (que também é 91), o mano e mais meia dúzia de gente :)

    E... eu não me desfaço do telemóvel... amo-o. É tão lindinho... e tem um nome tão apetecível. É como o meu primeiro portátil. Mesmo que um dia morra para o mundo, hei-de guardá-lo, de recordação :)

    Beijos

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  3. Ah, fico mais descansada com a tua decisão... vejo que escreveste este post num momento de quase desistência!!!

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