Vi, à hora de almoço, alguns candidatos ao ensino superior naquelas intermináveis filas de candidatura em pavilhões manhosos. Lembrei-me de quando foi a minha vez. Corria o ano da graça de 1999 (C'um caraças, no outro século!!!) quando me levantei uma manhã pela fresquinha e fui com a mamã e a melhor amiga (era um ano mais velha, já andava no superior, para mim era mais sabida que os Livros de Acesso) para a cidade do meu distrito. A mãe estacionou no Fórum (Já existia... afinal não sou assim tão antiga!) e daí, pela Lourenço Peixinho, seguimos para o degredo. Uma casa a cair aos bocados, com uma fila que parecia que tinha lá parido uma galega... tudo para apanhar um papelinho. O papelinho preenchia-se com o enchimento de umas bolinhas. Não se podia só riscar, tinha de se encher a bolinha toda, com caneta... e jeitinho... para não haver enganos. Decidimos almoçar no Centro Comercial e voltar à tarde para entregar os impressos. Sentei-me numa das mesinhas ao ar. Nem tinha apetite. Já me estava a ver a por um código mal ou a preencher o número errado e a ir parar a cursos com agulhas (enfermagens, medicinas, coisas dessas) ou animais com penas (veterinárias, biologias e assim) ou, pior, cenas com fios e vectores, tipo física... (Sou um bocado dramática, eu sei!) Chegada a hora da verdade, lembro-me como se fosse hoje, viro-me para a minha mãe e digo "Acho que afinal quero ser professora de português." Deviam ter visto a cara dela, coitadinha. Pálida. Aliás... mais que isso... sem cor, mesmo... E uma voz meia sumida a repetir "Oh Ana (os meus pais chamam-me assim, o que é que se há-de fazer?), mas tu sempre disseste que quando fosses grande querias entrar em direito em Coimbra, ser advogada e abrir um escritório em Águeda para defender os menores que vão trabalhar para as fábricas da batata frita...". E eu... "Pois foi... Mas agora não sei...". A minha amiga não falava. Lembrava-se bem do Verão em que me acabara o mantimento de livros e, como sempre passei férias com um advogado, me dediquei uma tarde inteira a ler o Código Penal. E da minha superioridade quando corrigia os senhores da TV e explicava à família a diferença entre um roubo e um furto. E da folha de papel de cavalinho que tive colada durante anos na porta da biblioteca de casa e onde se lia o meu nome e depois "Advogada. Horário de Atendimento...". E daquela gabarolice pegada que ainda hoje ponho no famoso episódio em que entro pela primeira vez na FDUC, com 5 anos, para ser menina das alianças na Capela de São Miguel, no casamento do advogado que anos mais tarde me havia de dar o CP para ler na praia. Passou-me a dúvida. Combinei com a minha mãe que quando tivesse tempo daria explicações de português aos filhos dos amigos, para não me afastar completamente dessa vontade (e dei, alguns anos). Preenchi tudinho. A mãe e a amiga confirmaram números, códigos e bolinhas 100 vezes cada uma. Tinha média de 18,5 e 19 nas específicas e andei todo o santo Verão com medo de não entrar (enfim... era a mesma lógica de nunca ter dito que um teste me correra bem. Na faculdade, achei uma vez, só uma, que tinha feito um exame brilhante, fui comemorar ao chinês de ao pé do Continente e tive 8... Portanto, não é da minha natureza ser boa a prever resultados!). Soube que tinha entrado no dia 17 de Setembro. Tive a primeira aula por volta de 15 de Outubro. Questionei algumas vezes se estava no sítio certo. Nunca me rendi suficientemente à advocacia para abrir um escritório em Águeda (acho que queria que fosse lá porque foi onde a minha mãe começou a carreira... uma espécie de sucessão...), nunca defendi directamente os menores que trabalham nas fábricas, menos ainda de batata frita :)... mas não me afastei muito do registo dos menores... de uma maneira ou outra, fui lá parar... Ser professora de português, não fui... Mas tornei-me professora... por paixão. E... ainda hoje, quando entro na capela de São Miguel, lembro-me de ter passado uma cerimónia inteira ao colo de um noivo e... quando chego ao bar... recordo-o velhinho e com um banco corrido onde dormi uma bela sesta tapada com o casaco do fato do meu pai. Por isso... talvez não esteja num sítio muito errado... nem me tenha desviado muito do meu caminho...
És Ana Rita?
ResponderEliminarNão posso dizer :)
ResponderEliminarMas porquê? Isso faz diferença?
Não faz diferença nenhuma...
ResponderEliminarSeria só uma coincidência agradável... se as coincidências existirem!
Existem :)
ResponderEliminarSó de mansinho, como quem não quer a coisa, o Fórum não existia... A não ser que te estejas a referir a qualquer outro fórum perdido por aí. :p
ResponderEliminarTu não me lês com atenção. Era o Fórum do meu distrito... que também tem uma Av. Lourenço Peixinho... fica à beira mar plantado e acolhe a pastelaria Peixinho que tem os melhores ovos moles do Mundo todo inteiro...
ResponderEliminar:)
Não sejas mázinha! :p
ResponderEliminarMas que foste tu fazer então à terra dos ovos moles?
Ai, ai... tu hoje não estás bom!!!
ResponderEliminarOh homem, então... é o meu distrito!!! E onde é que as pessoas se candidatam? Nas suas sedes de distrito!
Capito?!
:)
Já lá vão onze anos... E do que me lembro, fui fazê-lo no meu dia de anos. E já não é mau! :)
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