sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

R., a preconceituosa

Eu sei que vocês me adoram e até acham que não sou má de todo. Por isso mesmo, merecem-me o respeito que vos posso dar: todo! Lá está... e isto exige que não vos minta. Tirando a C. e a Eu, todos os habituais comentadores e apreciadores do blog já me viram. A maioria conhece-me bem, sabe até como sou quando me viram do avesso. Sabe, portanto, que não sou santinha e muito menos sonsa. Sabe que falho tantas vezes como falham os mais desastrados dos seres. Sabe que meto o pé na argola dia sim, dia também, que consigo tornar uma conversa séria numa coisa um bocado desconfortável para o meu lado com uma piada a despropósito. Mas também sabe que me esforço muito por não ser má, não ser mesquinha e ser, apesar de tudo, de tudo mesmo, alguém que, quem conheça, acredite que vale a pena guardar, nem que seja num lugar escondidinho do coração. Se há meia dúzia de pessoas a quem pagava para me esquecer, há poucas coisas que me magoem mais que ser esquecida por aqueles de que gosto muito. E para eu gostar muito não é preciso muito. Sigo o método do filme "Mentes brilhantes". Toda a gente começa com 100% da minha confiança, 100% da minha amizade. Ninguém parte do 0 para me conquistar. Só precisa manter o que lhe dou de mão beijada no primeiro olhar. Uns conseguem, sem esforço: são os meus essenciais, os que fazem as coisas mais incompreensíveis e ainda assim me merecem sempre um "Adoro-te". Outros vão perdendo pontos... até ficarem pelo meio termo, ou com negativa em matéria de aconchego no coração. Não sou, está visto, tipa para deitar fora uma amizade por um defeito pequenino, por um ressabiamento, por uma discordância, por um esquecimento justificado, por um não bem explicado. E toda esta ladaínha para dizer que hoje me senti um bocadinho fraca res. Um bocadinho armada ao pingarelho. Um bocadinho menina de redoma. Um bocadinho mete nojo. E queria que soubessem. Porque ninguém é perfeito e eu, definitivamente, também não. Preciso que saibam, para ter a certezinha que voltam, que gostam (não é do que escrevo, é de mim), que não perdem a vontade de dizer "adoro-te", simplesmente porque, apesar de tudo, de tudo mesmo, vos parece que vale a pena guardar-me num cantinho do coração!
Cenário: Sport Zone do Dolce Vita, fim da manhã de hoje.
R. Não gosto muito deste material nos fatos de treino. Não tem nada de algodão para estas idades?
Menino (e que menino!!!): Para o tamanho que quer, não. Só mesmo isto. Tem este, este, este e estes... e também estes...
R. Pronto, acho que é este. É isso, vai este! Espere... Ai... olhe lá... se tivesse 13 anos, gostava mais de receber este ou este?
Menino: Este. Mas depende. Como é que ele é?
R. Eu não o conheço. É para um menino de um Bairro problemático de Lisboa, de uma família carenciada. Isto é uma campanha de solidariedade. Só sei o nome e a idade.
Menino: Pois... não sei...
R. Pronto, vai este! Agora tenho de lhe ir procurar um jogo catita, que ele também quer um jogo.
Menino: E em que jogo está a pensar?
R. Não sei. Pensei num jogo de tabuleiro, para ele conviver com os amigos.
Menino: Sabe, é que nós temos aqui um jogo que eu acho que ele talvez goste mais... É um jogo de alvo. Sabe? Atirar as setas a um alvo.
R. Ah... pois... sei... Mas acho melhor não. Eu sei lá... é lá daqueles Bairros, ainda arranca algum olho a um vizinho com uma das setas...
Menino: Ããããã... sabe que lá por ele ser de um sítio desses, não quer dizer que vá usar as setas para cegar pessoas. Eu sou de um Bairro problemático de Lisboa e nunca ceguei ninguém... Mas se a sossega, as setas são de plástico.
R. (ou o que restou dela depois de todo o esforço para encontrar um buraco bem fundo no chão da loja) Pois... Eu... Quer dizer... Eu... Nós... Ai... Desculpe!
Menino: Não faz mal!
R. Acho que tem razão. Ele vai gostar muito deste jogo. Também vai.
Menino: (Lição de moral que melhor me assentou até hoje!)
R. Obrigada! Por tudo!
Menino: De nada!
R. (sorriso)
Menino: (também)

13 comentários:

  1. Relaxa miúda! É assim que se aprende! Vais ver que desta não esqueces! E eu acredito que a menos que se faça mal intencionalmente, está-se sempre perdoado!!

    :D

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  2. Eu como tinha que fugir à regra não comecei nos 100%... sim comecei mesmo nos 0%... sim eu sei que sou uma mete nojo de quem ninguém gosta à primeira vista (e às vezes à segunda e à terceira...)! Quanto à história do menino da Sport Zone é absolutamente impagável... agora deviam ver o ar de R. Maria a contá-la ao vivo e a cores...claro que é bom recordar que esta história aconteceu um dia depois do sermão de R. ao arrumador.....

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  3. G., portanto, deduzo que, apesar de tudo, gostas de mim na mesma :)

    C., tu começaste com 100%, mas fizeste questão de passar para os 0% logo no primeiro olhar... Mas a verdade é que em contexto profissional eu não consegui conquistar-vos logo. Não me esqueço que o G. foi perguntar "Quem raio é a miúda que ainda agora chegou e já manda bitaites nas reuniões"?
    Acontece que o tempo nos provou que, contra as mais doutas opiniões, é mesmo possível fazer os melhores amigos no local de trabalho :)

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  4. LOL!

    Está descansada, R.(inha), que meter os pés assim na poça, todos os fazemos. E a tua preocupação foi sensata ;)

    Então e onde é que vou, aí nos 80%? :p

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  5. Ias nos 80%, até achares que o elogio mais brutal que me podias fazer era "porreira". Nesse dia, meu menino P. (inho), ficaste-te pelos 30, 40% no máximo :)

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  6. Xii... Esse dia já foi há muitos dias! :p

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  7. Xiii... Então e quê? Se fosse agora já nem "porreira" me chamavas?!

    P.S. De rabitesga é que não abdicas, não é?! :)

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  8. Rabitesga, convenhamos, é original, embora trademark da minha avó (mas ela não se importa que eu o use). :)

    O que eu estava a contar era que já tivesse subido umas %'s desde esse dia :p Mas estou a ver que sou tão popular como o Sócrates. :)

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  9. Vá...não desistas! É Natal... e tal :) Esforça-te só mais um bocadinho :) Ahahahahah :)

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  10. Lá crente sou eu... Pronto, convenceste-me, vou esforçar-me mais um pouco para poder governar em harmonia com a Assembleia! :D

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  11. R. se fosses preconceituosa não contavas, na primeira pessoa, este episódio da tua vida.
    Este testemunho é a prova de que de preconceituosa não tens nada.
    Comentários menos bem conseguidos todos nós fazemos e isso não faz de nós más pessoas (pelo menos é nisso que eu acredito!).
    Beijinhos,

    Eu

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  12. :) Beijinhos, Eu! E temos de nos dar o presente de Natal de nos conhecermos, ou de Reis... vá :)

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