terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Guia da Rapariga de Hoje


Já muitas vezes aqui falei do Guia da Rapariga de Hoje. Quem priva comigo pessoalmente, sabe que o cito como a um livro de referência. A curiosidade de quase todos faz-me acreditar que o menciono com suficiente elogio para perceberem como é mágico. O Guia da Rapariga de Hoje foi o livro que a minha mãe achou que eu devia ler quando tinha catorze anos. O Guia da Rapariga de Hoje é o livro que as minhas filhas, um dia, hão-de ler. O Guia da Rapariga de Hoje já não se vende. É um livro de Floriane Prévot, editado pela Aster, Lisboa, em 1964, e que pertencia à colecção "Da mulher e do lar". É uma tradução de "Le Guide Marabout de la Jeune Fille D'Aujourd'hui". Chegados aqui, será possível começarem a perceber que livro é este. Não se deixem, ainda assim, tentar pela ideia rápida de que é uma coisa desactualizada e sem préstimo. Quem o lê, não o esquece. Está dividido em capítulos com nomes tão apetecíveis como "uma rapariga segura de si", "fresca e bonita" ou "saídas e distracções". Este livro pode ser revisitado muitas vezes. Foi com ele que, já mais crescida, aprendi as vantagens de ter uma lista de viagem. Hoje, como sou dependente da organização, tenho 4 listas: verão e inverno, combinados com trabalho ou lazer. Foi com este livro que tomei consciência que, pior do que dizer não a um rapaz, é arranjar uma desculpa esfarrapada para não sair quando já está quase na hora marcada. Este livro tem até a pretensão de, no capítulo "rapazes", nos dar umas dicas sobre os "rapazes bem" e os "rapazes não bem". Em matéria profissional, dá-nos a opção de cerzideira, mas não deixa de nos alertar para a importância de haver mulheres investigadoras e ressalta como requisito destas a paciência, a decisão e o respeito pelo trabalho dos que investigaram antes de si. O Guia da Rapariga de Hoje diz que não devemos deixar-nos iludir por quem não se abala para nos abrir a porta do carro ou nos deixa correr perigo do lado de fora do passeio... e talvez aqui precise de ser lido com um filtro próprio de uma igualdade que não compreende que não há nada tão justo como marcar pela boa diferença. Mas é este livro que diz que um amigo pode estar a deixar de o ser se pensar nele nos fizer sorrir ou se vê-lo, ouvi-lo ou lê-lo nos parecer o melhor momento do dia ou da noite. Por isso, o Guia da Rapariga de Hoje diz que há cortes de cabelo que não ficam bem com o formato do nosso rosto, mas também nos mostra, lá por altura de todos os radicalismos, que há mais vida para além do número de saias que se deve ter ou do número de truques de tira-nódoas que se deve dominar. Indica livros, sugere estudos e dá exemplo do que não deve fazer alguém que quer muito ser feliz. Este livro, se não é o livro da minha vida, não deixa de ser um dos que mais me marcaram. Por tudo.

4 comentários:

  1. Gostei. Muito.
    Infelizmente, é como diz : ja não se vende.A "Hello Kitty" monopoliza. Vou tentar arranjar em francês..

    Grata.
    BJ.
    C (EN)

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  2. Ah....a regra do passeio (salvo quando chove, por causa dos "pingos dos beirais" que podem perturbar-nos) é uma delícia...mas palpita-me que poucos ou raros cavalheiros a conhecem e praticam ( e como seria, então, útil que eles lessem o guia da rapariga de hoje...)

    C.

    , mas quando há um que o faz

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  3. Ai que lindo que lindo!

    Tenho comigo o livro de Economia Doméstica da minha mãe e, feminismos e igualdades à parte, acho que é uma cadeira que fazia falta hoje. Para homens e mulheres.

    Aliás, foi graças a esse livro que aprendi como se faz uma sopa, coisa que já me salvou de morrer desnutrida ou com escorbuto algumas vezes, tenho a certeza (tal é a preguiça e má vontade para cozinhar).

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  4. Rachelet,
    como eu te entendo... Sou um zero mais que à esquerda nas artes da culinária :)
    Sê bem-vinda!

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