quarta-feira, 25 de maio de 2011

A palmada pedagógica


A ver: a palmada pedagógica é aquela palmada que sacode o pó do rabiosque dos filhos malcriados, aquela que lhes assenta que nem uma luva quando decidem querer tudo no supermercado e (ai meu Deus, como isto me irrita) desatar a guinchar se não lhe fazem a vontade, aquela que se dá depois de se ter explicado com calma que a comida não se atira para o chão e que há meninos que passam fome e a criancinha decide contribuir para a definição de abdominais dos pais e espalhar esparguete ou arroz ou carne ou peixe ou o que seja pelo chão da casa, é aquela que serve para mostrar que aos mais velhos não se levanta a voz, já se avisou, é também aquela que aparece como recurso à décima asneira cabeluda, depois de todo um tratado de psicologia debitado nas primeiras nove. A palmada pedagógica não espanca, não marca fisicamente, não traumatiza. A palmada pedagógica é um "põe-te fino" que deve soar como campainha e ajudar na hora da indecisão entre o disparate e o bom comportamento. Às vezes, a palmada pedagógica pode nem ser uma palmada, mas dormir sem história, não ver o filme de animação que se quer naquele dia e, no caso dos mais crescidos, não sair e ficar mesmo a estudar. A palmada pedagógica não faz milagres, que não faz. E admiro quem educa os filhos sem palmadas pedagógicas. Não sou especialmente mal educada (acho eu) e apanhei uma única vez na vida. Estava apaixonada pelo Apolo da novela e decidi, ao almoço, comer sopa distraída, depois de a minha mãe me ter avisado vezes sem conta. Quando acabei, tinha metade do prato da sopa no vestido e aulas à tarde. A mãe disse que eu podia escolher: ou ia assim para a escola, ou apanhava uma palmada. Eu respondi: "Podes bater, mas tira-me isto!". Foi uma sacudidela de moscas. Não doeu. Mas assinalou. E não me lembro de repetir a gracinha. O meu irmão apanhou umas quantas palmadas pedagógicas, mas tinha uns pulmões para guinchar como reconheço a poucos miúdos e uma vez mordeu um colega no braço. Além disso, gostava de ver as meias sair pela frente dos sapatos, pelo que não descansava enquanto não os rompesse à frente, recorrendo a pontapés a tudo para alcançar o seu objectivo. Ah... e até aos quatro anos não comia carne ou peixe (vomitava tudo) e só admitia fruta passada. Era tramado, o puto. Ora, a palmada pedagógica, no meu modesto entender, não faz mal nenhum a ninguém. Bem pelo contrário. Pode não resolver tudo, mas acredito que ajude alguma coisa. Quando vejo o vídeo ali em cima, pergunto-me se esta gente terá levado a palmada pedagógica. Concedo, também podem ter levado porrada de meia noite e ficado assim por isso, mas não acho tão provável. Admito como mais fiável a hipótese do "ao Deus dará", o "deixa andar" e a irritantezinha mania que o menino se traumatiza por dá cá aquela palha. Quando andava na escola, os pais dos miúdos diziam às professoras "Se ele precisar, dê-lhe uma palmada!". Hoje, em casa, devem avisar os filhos que, mesmo que a professora não precise, podem aliviar os stress fazendo-lhe a vida num inferno!. É isto que queremos?! É assim que achamos que a coisa melhora?! São estas pessoas que pretendemos ter a conviver connosco?! Gente sem rédea, sem noção de limite, sem preparação para repudiar o mal. Miúdos que cospem no chão, não dão lugar aos idosos, berram e levantam a mão a quem os contrarie, garotas que bebem como homens grandes e dizem asneiras como se o Mundo estivesse para acabar e lhes tivessem encomendado um chorrilho de insultos?! É disto que precisamos?! Há tempos, ouvimos a história deprimente do "dá-me o telemóvel, já", em que a fulana gritava, histérica, com a professora que, atentem bem na exigência, não queria que se mexesse no telemóvel durante as aulas. Depois, vários outros episódios. Agora, isto. Não sou favorável ao abaixamento da imputabilidade penal, nem tão pouco entendo que a Lei Tutelar Educativa tenha de ser profundamente alterada. Isto não é uma questão de direito. É uma questão de civismo, de educação, de formação para a cidadania. Não se resolve por decreto ou com detenções. Isto resolve-se, se é que se resolve, porque às vezes duvido, com palmadas pedagógicas. Dadas cedo, que toda a gente sabe que "burro velho não aprende"!

4 comentários:

  1. Eu também acho, R.
    Isto não é uma questão de direito e MUITO MENOS UMA QUESTÂO DE TRIBUNAIS.
    Há patologias que não têm a solução no "castigo judiciário". É uma ilusão e uma falácia pensar-se logo em "clamar pelos Tribunais" - é o caminho do facilitismo, cómodo e asséptico para toda a comunidade, até como forma de desresponsabilização...

    Bj.
    c (en)

    ResponderEliminar
  2. Gostei muito de ler e concordo, claro.

    Não cheguei a ver o vídeo (já não está acessível), mas parece-me que não perdi grande coisa.

    ResponderEliminar
  3. Estes são os que frequentam as escolas para receber subsídios, destruir a vida dos professores e de outras crianças, que sem culpa nenhuma, não conseguem aprender com o mau clima que os vândalos provocam diariamente. Isto não vai com psicólogos sem experiência de vida, mas sim com alguns tabefes dados na hora certa, enfim uma boa palmada pedagógica.
    O video não é único, há professores que também apanham.
    Li e concordo. SOS para as escolas

    ResponderEliminar