sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Lisbon

Lisboa fica, cada vez mais, na rota das minhas cidades. Durante muito tempo, achei que não seria capaz de viver lá, mas agora tenho momentos em que acredito que talvez fosse possível. Quando há bocadinho demorámos uma hora para chegar do Oriente a Alverca, praguejei que me dava uma coisa má se tivesse de fazer aquilo todos os dias... mas viver mesmo no centro, numa qualquer casa recuperada na zona do castelo, no Chiado ou nos arrabaldes da Avenida da Liberdade seria um projecto de vida a não excluir liminarmente. Lisboa tem coisas agradáveis. Apesar das sete colinas, gosto muito de andar a pé lá. Mais que em Coimbra. Sempre que podemos fazemos uma caminhada jeitosa. Combinamos com os amigos e vamos a pé até onde dá para ir, vemos os estátua da Rua Augusta, deciframos a plataforma do Elevador, apreciamos uma fragata estacionada aos pés do Terreiro do Paço, enfim. A vista dos quartos era maravilhosa. Principalmente à noite, quando o breu engole as obras e deixa apenas os pontos de luz da ponte e alguns salpicos no casario. Eu fiquei no quarto Alfama, o G. no quarto Chiado. Segundo ele, porque eu sou trigueira e ele é aristocrata. Não se negue. Trigueira. Há muitos anos que não me chamavam isso. Trigueira. Mas sim, sou. Voltemos a Lisboa. Sabe-me bem este trabalho. Tanto que nem dá para medir. Fico ali a aprender, a ouvir, a discutir, a discordar e a dizer porquê. Este grupo, então, de uma capacidade de discussão séria, empenhada, aberta, absolutamente admirável. Gosto muito quando as pessoas não sentem necessidade de atacar para se defender. Prova elevação. E eu gosto disso. Este grupo, de facto, fez destes dois dias dias muito bons. A somar a isso, revi o meu Billly e tive oportunidade, finalmente, de lhe dar o abraço de "parabéns pápá" que me andava aqui a formigar nas palmas das mãos desde que soube da boa notícia. Conheci mais gente e isso faz sempre bem. Obriguei os meninos a empurrarem um carro que avariou em plena Avenida da Liberdade, porque estava com pena do senhor, mas não resultou. Conheci um sítio bem bom para jantaradas, com um fusili de legumes com um cheirinho a Itália. Relembrei o erasmus com o I. e confirmei que sim, é verdade, coboiei com o tipo da casa famosa da 4. Segundo a malta, aos domingos devia começar a votar para o moço ficar, até por uma questão de solidariedade, mas não sei se já me convenceram. Muita controvérsia depois (e eu não sei por que cargas de água é que esta gente se lembra deste tipo de votação, mas talvez uns sapatos com lantejoulas a formarem um coração ajude), sou informada de que sou uma coquete. Perante o ar de "Oi?!" que lhes lancei, fiquei a saber que a dúvida estava entre mimada, queque, coimbrinha e coquete. Agradeço terem optado por coquete. Além disso, segundo a descrição, coquete é uma tipa que não anda em manada, que tem um estilo muito seu e que dá ares de parisiense. Confesso que a parte do parisiense, acredito mesmo, já não veio das cabeças deles, mas das imperiais que já falavam por eles. Mas pronto, é bem. Parisiense é à frente. Podiam achar-me com ar de coisa pior. Depois deixámos a pré-mãmã em casa e seguimos para um mini prolongamento, muito mini, que havia pessoas com julgamentos às nove. Pequena R. e os três mosqueteiros, com recomendações várias de que estava uma menina no grupo e nada de conversas obscenas ou abordagens manhosas, que não queria ficar falada na capital. Brincadeiras à parte, conversinha da boa. Última noite no quarto de janela para o mundo das luzinhas e a promessa, embora o sono possa ser causa de justificação para isso, de em Dezembro me levar à émoi e não me chatear se eu demorar a decidir que carteira quero. Hoje almoçámos num dos meus sítios, onde o Tejo é a companhia e o teatro o pretexto. Se na quarta fizemos a viagem noite dentro e a ponderar as pancas fortes dos gajos de trinta, hoje voltámos ao velho registo do "conta-me lá tudo da tua vida, principalmente aquilo que não contas a mais ninguém e sempre achaste que nem a mim contarias". Isto das amizades sem tamanho tem destas coisas. Destas e doutras, como as gargalhadas pelas private jokes que mais ninguénzinho alcança. Neste momento, no topo, está uma voz de menina que sei fazer muito bem (modéstia à parte) a perguntar, com ar de mimo, "E não me citas, não?!" seguida de uma quase prece "Cita-me lá...". Gosto de Lisboa. Muito. E não posso voltar a esquecer-me da máquina fotográfica em casa.

3 comentários:

  1. Já te tinha falado dessa Lisboa, não já? Só é pena ser cara que dói...
    Um "thumbs up". ;-)

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  2. Pois...a émoi...também ando há imensas luas a "prometer levar-me lá...

    R.
    tenho o teu lindo mail guardadíssimo ...
    Claro que vou responder antes do Natal, num qualquer momento em que possa apenas dizer:então, amanhã às...
    BJ.
    C (EN)

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