quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Do Mundo

Esforço-me todos os dias por manter a humildade intelectual de reconhecer que lá porque eu não as entendo, isso não significa que as normas de um determinado país sejam piores que aquelas com que convivo diariamente. Para ser franca, também cá há normas que eu não entendo. Mas, dizia eu, esforço-me todos os dias por manter essa humildade intelectual e, mais ainda, por passá-la para os meus alunos, tentando cultivar neles verdadeiro espírito crítico e não o desdém pelo que não conhecem. É nesse enquadramento que falamos da pena de morte e da prisão perpétua no direito penal e era nesse enquadramento que lhes falava no repúdio Muçulmano. Lembro-os de normas passadas como a que dava ao cônjuge marido o direito de devolver a cônjuge mulher se, na noite de núpcias, viesse a atestar que a referida moça lhe tinha sido entregue encertada. E por aí fora. Mas há coisas que me custam tanto a entender, tanto, tanto, tanto, mesmo assumindo como pano de fundo que acontecem em sítios onde igualdade de género é conceito desconhecido, que não consigo deixar de me espantar e... cedendo na humildade intelectual de procurar não me julgar melhor, condenar o outro, o que pratica a atrocidade, o que legisla a desigualdade, o que ignora a dignidade de pessoa humana, o que se furta a questionar a desproporcionalidade e o que ainda não parou para reflectir a razão pela qual a maioria dos Estados de primeira linha se disciplinaram e separaram as águas do direito e da moral, tanto quanto é possível, na vida, separarmos umas coisas das outras. Esta notícia reacendeu em mim a pestilenta sobranceria de lhes querer atirar à cara que não são gente. E tudo porque não entendo. Dou voltas à cabeça e não entendo. Ignora-se a vontade de uma mulher, mutila-se-lhe a alma e a determinação sobre si e sobre o seu corpo e... a seguir vem-se condená-la?! Não entendo. Tal qual como depois não a entendo a ela, submissa à sorte de se apoucar perante o algoz. É uma coisa que me transcende. E daquelas que me faz questionar se não anda meio mundo doido e a outra metade a caminho de enlouquecer.

2 comentários:

  1. Também li a notícia, e sim fiquei chocada. Imaginar tal coisa acontecer aqui é impensável... E não sei como não questionar que os Estados Unidos, ...União Europeia... todos eles, se metam em tudo e mais alguma coisa relativamente a minas, petróleo, armas, poder nuclear, e que nisto, nada, não há iniciativa concreta, radical... Sou muito contra a estas potencias se meterem nas matérias primas de cada continente afirmando-se como donas e senhoras de algo, mas isto? Sim, dói na alma. Já não basta ter sido vítima de violação e ainda ser condenada por isso. Que tristeza.

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  2. Quase toda a gente que é violada vive é "condenada".


    A minha amiga M foi condenada a viver +-15 anos com o violador.

    Só quando foi para a universidade á que foi colocada em "liberdade condicional "

    erva doce

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