Este post será entendido, na sua verdadeira essência, apenas por três pessoas que leêm este blog: a Xana, a C. e a P.
De qualquer maneira, a coisa é tão de filme e eu estou tão incrédula que... cá vai!
Hoje, o G. faz anos. O G., para quem não sabe, é dos melhores cozinheiros que eu conheço. Como ainda não tinha comprado o presente de aniversário ao G., ontem saí com uma hora de avanço de casa e antes de ir ao British passei pela Bertrand do Dolce Vita. Quando lá cheguei, munida que ando sempre da minha lista de Natal, perdi-me nas compras (já recebi o subsídio de Natal!!!) e apostei em livros para umas quantas alminhas amigas. Estava eu naquele emaranhado, com livros debaixo de ambos os braços, mas ainda na minha parte essencial daquela livraria, que é a da poesia, a namorar um livrinho chamado "Quero falar-te dos meus sentimentos" e com vontade de o receber de alguém e ouço uma voz familiar, arrastada, com suspiros depois de cada vogal, soletrar um R... (inha), belíssima!!! Oooookkk, pensei eu... Isto não é o que tu estás a pensar, R. Maria. Não pode ser! Há todo um Portugal para se estar, tu não ias encontrar este tipo justamente na Bertrand do Dolce Vita de Coimbra. Viro-me, a medo, e... eccolo! Era ele! Está na mesma! E então a conversa flui com pérolas como "pareces uma miúda", "tens falado com os colegas? Quase todos já casaram" Pausa. Quase todos vírgula. Alguns, oh caramelo, mas "sim, pois é". E então o temível "Nós não!". O "nós" arrastadinho... ai, valha-me a Nossa Senhora dos Aflitos! Passou-me o filme todinho à frente. Repesquei tesourinhos deprimentes dos últimos dez anos. Desde quando ao "E a ti, o que te apetece?" me ocorreu, sabiamente, responder "A mim, apetece-me dizer-te para teres juízo na cabeça!", até aos telefonemas espaçados, de há cinco anos para cá, que decorrem, invariavelmente, da seguinte maneira "Estou? Estou sim. Olá. Peço desculpa, com quem estou a falar, por favor? Não me conheces? Pois, não reconheço o número. Mas então não o gravaste da última vez? É fulano! Ah... Sabes que sou distraída. Então, estás bom? Estou... E tu, estás bem? Estou. Olha, estou a ligar-te para te dizer que (não, não é que tem uma dúvida, não, não é que está a chover, não, não é que mudou de clube, não, não é que se lembrou... é) gostava que viesses cá passar o fim de semana. Mas a que propósito? Lá estás tu. Vires cá. Pois, não vai dar. (seguido de explicações tão coerentes como "estou sem carro, tenho exames para corrigir, já tenho um compromisso..." E só porque já houve muitas, mas muitas mesmo, vezes em que a justificação foi um breve "Porque não" e isso não sanou as dificuldades)". Ontem, invariavelmente, a conversa seguiu o rumo do "Agora que te encontrei, não vou deixar-te ir sem jantarmos". Eu estava de sapatilhas, porque, se não, tinha descido do salto. Que não, que tinha uma aula, que até estava com pressa, que só tinha ido adiantar as compras de Natal. "Ah... livros de culinária. Adoro fadas do lar!". A oportunidade perfeita para esclarecer que não, que sou péssima na cozinha, que a única coisa que faço bem é destruir ingredientes... E então um interminável "Agora tenho de ir. Fica bem. Sim, um café, pois... até pode ser que se proporcione. Claro... Tá... mas agora tenho mesmo de ir...". E fui. Fiquei na caixa, escrutinadinha da cabeça aos pés, uns bons dez minutos (uma série de embrulhos). E consegui perceber que, de facto, há coisas que não mudam. Há clics que não têm mesmo por onde se dar. Que, não sendo, de todo, uma arrasa corações, levo com esta cruz de ter sido má, e algumas vezes mal-educada até, com ele. Porque não deu para perceber com falinhas mansas e alguma serenidade. Enfim... E lembrei-me do Grrr... E não parecia possível uma ceninha como aquela que vivi à porta do 4 da Rua de Tomar nos idos de 1999. Agora apresentava-se todo em azul e vermelho, com um blaser de botões dourados polidos a tal ponto que teria dado para me pentear a olhar para eles. Seria uma rede tentacular de filhos com nomes carregadinhos de ífens e de "de", com qualquer francesismo pelo meio, mais uma sogra a quem, no limite, chamaria "tia" e um marido que nas horas do calor me trataria por "você". A ajudar à festa, jeans e sapatilhas rosa choc provocariam sempre o enjoado "pareces uma miúda" e rabos de cavalo não lograriam o objectivo de me posicionar convenientemente no mundo vip lá da zona. Mas o pior, o pior mesmo, era lembrar-me do Grrr... e das voltas que a vida dá... e desta mania grave de ser dona e senhora das minhas vontades, que nem sempre foi fácil de entender!
Sai desse corpo Amorim...
ResponderEliminarEu ainda acho que devias ter ido tomar o cafezinho com o sujeito :).....
ResponderEliminarNão me faças mal era piadinha! Já agora não te esqueças de comprar o presente de Natal da alminha ;)
Porque apesar de tudo, vocês sabem, quero mais é que seja muito feliz (longe), não lhe compro presente (obviamente), mas envio uma mensagem de "Boas Festas"!
ResponderEliminarAchas bem esse teu comportamento?
ResponderEliminarentão o ilustre tão simpático e, como sempre, muito oportuno...e tu não vais tomar um café?!
(brincadeirinha!!!!!)
Essa tua mania lembra-me um outro epísódio - junto às escadas do quebra costas e de uma nossa colega estar a elogiar o nosso ar de meninas independentes e outras coisas tais, muito abonatórias da nossa personalidade mas nada correspondente com a realidade!
Olha tenho uma novidade...não posso dizer por este meio público! fica para o jantar de natal.
A esta hora não é decente perguntar-te nada por telefone, mas livra-te de amanhã não me contares essa novidade. Olha que eu sou uma pessoa com o sangue fraquinho (acho que este argumento continua a render, embora esteja a usá-lo sem qualquer critério :)).
ResponderEliminarEntretanto, não, tu NÃO TENS NOÇÃO!!! Também perguntou por ti... Ah... e disse que ias dar uma juíza implacável :) Implacável... Vê lá tu?! Até parece que... nos conhece :)
Beijinhos e saudades*
Ah... nada de cruzes nem alusões ao Zé das Medalhas :) Um autêntico exemplo de MUDAICETEA :)
ResponderEliminar