Eles, um ele e uma ela, sempre me trataram como uma pita com uma mania descomunal. Pois se eu não me limitava a acenar que sim às suas decisões e se até opinava, vejam bem a audácia... Além disso, eu era novinha de mais para produzir algum pensamento de jeito, pelo que nunca devem ter lido nada do que escrevi e, pior, atentado no que alguma vez disse... Levavam comigo quando não tinham remédio, mas nunca esconderam que os nossos patamares eram diferentes... Não me magoaram. É preciso que alguém seja muito importante para mim para conseguir magoar-me. Irritavam-me. Só isso. Nunca me mereceram mais que uma irritação que era grande mas passava em pouco tempo, porque não me ocupo de quem não me diz nada. Depois, cada um fazia o seu trabalho, eu era educada, que os meus paizinhos não fizeram muito mau serviço comigo, e cada um ia à sua vida, sem saudades. Agora, ela trata-me pelo diminutivo, força um sorriso quase verdadeiro, dá-me mini abracinhos, pergunta-me se está tudo bem e diz que está sempre disponível para me ajudar em tudo nas investigações. Deu um nó ao meu cérebro. Ele, bem... ele é mais óbvio. Fez a mesma fita, espetou-me com dois beijos que só não tiveram som, mas foram quase repenicados... Mas é um tanto pacóvio. Acrescentou que lá no sítio onde foi botar paleio se tinha falado um tantão de um dito livro de moi même! Aí sim... tudo encaixou. Não fiz uma careta, não lhe pus a língua de fora, não dei um grito histérico como as pré adolescentes. Limitei-me a agradecer a informação e a produzir um sorriso muito amarelo que, se for tão esperto como julga, há-de interpretar como "Agora sou eu que não quero ser tua amiga". Pus-me a andar e até desci os dois degraus do corredor com um pulinho, como as pitas. Aquelas que, coitaditas, não têm nadinha na cabeça. Ahhh... doce sabor da lambada de luva branca!
P.S. Eu não era assim. A sério. Mas obrigaram-me a aprender a ser.
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