quarta-feira, 2 de junho de 2010
Viver a vida
Não sou exactamente uma seguidora implacável de novelas, mas tive oportunidade de ver alguns episódios desta. Esta cena... bem... era bom que na vida real as coisas acontecessem com esta genialidade, com este acerto do compasso. Normalmente, não acontecem. Se soubessemos todos que não, não inventámos nada, que não, não estamos a imaginar nada, que sim, é mesmo assim, que sim, vai dar certo, podíamos, sem medo, arriscar um "eu amo-te" quando é essa a frase que nos tira o fôlego, que nos mora na garganta. Nunca fui capaz de calar um "gosto de ti". Ainda hoje, não sou. Mas um "gosto de ti" diz-se aos amigos. Eu, pelo menos, digo. Diz-se à lua, ao bolo que cresceu no forno, à saia que continua a servir-nos, ao cão que não nos rosna, à flor que dá filhos no vaso que temos em casa. Eu, pelo menos, digo. Um "gosto de ti" dito quando se cala um "eu amo-te" é a expressão acabada do medo. Do pânico, até. Da certeza que não resistiríamos a uma resposta diferente de um "eu também". Um "gosto de ti" dito a quem se ama não passa de um gesto em que depositamos a chave do nosso coração nas mãos de outra pessoa, não passa de um primeiro passo. E, depois, há a eterna questão dos papéis. Uma princesa sonha mais com um "eu também" do que com um "eu amo-te". Não ama menos por isso. Tem só a ilusão do arrebatamento, da não saída que é seguirem em frente e descobrirem o mundo juntos. Uma princesa acalenta o sonho de nunca ouvir um "mas eu não". E, por isso, não pode arriscar ela o "eu amo-te". Às vezes, diz um "gosto de ti". Às vezes, espera a hora de dizer um "eu também".
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Tb n segui mto a novela, mas sem dúvida que teve gds momentos no k se referem a relações entre pessoas... se tdo fosse como nas novelas o mundo era bem melhor!!
ResponderEliminarSexta? Almoço? Sim? Siiim? Sim? Lanche? Beira rio? Sei lá... escolhes tu... Basta-me que apareças e que me ouças e me dês um daqueles sermões dos antigos...
ResponderEliminarAmei o post!
ResponderEliminarE depois de pensar um bocadinho sobre o post, e continuar a achar que está divinalmente bem escrito, há duas coisas que para mim têm outra explicação:
ResponderEliminar- para mim é a palavra mais poderosa que conheço! e deixo-a andar meio entalada na garganta durante uns tempos, para ter o conforto de a dizer quando já é uma presença certa e confortável no meu ser... tal como a pessoa a que a palavra se oferece! Mas isto sou eu!
- talvez por isso não tenha problema em dizê-la antes do príncipe... é claro que depois tenho sempre que me aguentar à bronca... quer dizer, posso receber de volta um silêncio (o que até me parece razoável... e consigo - acho eu - tolerar), ou um "eu também" (e agora toma lá as perninhas a tremer), mas volto a pôr a coroa de princes para confessar, wue o que queria mesmo era ouvir a frase de volta, sem mais pontos ou vírgulas!
E aí está! Eu Guilhim Maria, firme e dura como um rochedo, estou aqui a falar de romance!! Este mundo está perdido!
miga, tenho formação de manhã e de tarde vou tentar alterar a hora, e dp digo-te algo!!
ResponderEliminarQuerida G.,
ResponderEliminarnão posso concordar mais contigo. Não é palavra que possa dizer-se ao desbarato. É uma jóia rara, para usar nas ocasiões especiais. Mas, uma vez dita, vejo-a como a companhia diária. O amadurecimento permite-nos valorizar os brincos de pedras preciosas e fazer deles a nossa companhia dia e noite. Abandonamos as trocas de bijuteria de acordo com as cores da roupa para serenarmos nuns brilhantes que passam a ser parte de nós. Como o perfume que nos caracteriza. O nosso, mais que o do frasco com que nos pulverizamos. Por isso, o "amo-te" tem de surgir numa hora certa, mas depois pode recuperar-se todos os dias, todas as noites, sem nunca perder a magia, a intensidade, a razão de ser, a verdade do primeiro momento. Difícil não é isto, viver com ele para sempre. Difícil é encontrar a hora certa de o deixar nascer. Como diz o poeta:
"Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça."
Eugénio de Andrade
Beijinhos*