terça-feira, 15 de junho de 2010

Poema

Foi no dia em que me disse
um poema inteirinho,
sem nos desviarmos o olhar,
que eu soube melhor que nunca
o que era isso da palavra amar.
Mas não mo repetiu.
Até hoje, não mais ninguém o ouviu.
Se fosse para ser inteiro...
a pulso labaredas, sim.
Mas da vida vingou sozinho,
temendo, cada dia mais,
repetir-me um poema inteirinho.
Madura sorte de se alhear
caminho todo sem poesia
canteiro ermo da razão
morte tentada cedo ao coração.
Das brancas túlipas enjeitadas
traços largos de um sorriso
quebrado em lágrimas magoadas.
Solitária escolha de chumbo
missão rasteira de alvo ao fim
doida ponte feita névoa
do tempo que não chegou a chegar
antes de se pôr a partir.
Vontade dúbia,
essa, de me manter de pé
sem desaprender de sorrir.


"Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."

Mário Quintana

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