Eu fui comprar presentes de casamento. Entrei na loja onde já entrei muitas vezes, sem desconfiar do que me esperava naquele final de tarde de ontem...
Pois bem... eu entrei e cumprimentei a senhora que por lá dá dicas, como sempre fiz... Só que ontem... não havia mais ninguém na loja, era fim de dia... e a senhora estava com uma certa vontade de conversar. E lá percorremos muitos tópicos, desde a profissão, à crise, passando pelo calor, pelo bom gosto da minha pessoa, pela estranha aura de princesa, pela originalidade do colar, pela vida. Gostei de quase tudo, como sempre... mas fui-me pautando por algum freio consumista porque... não sei se já vos disse... mas... são seis casórios. E... ai que esta era tão gira, mas o preço é proibitivo, olhe que aquela também... tem mesmo a cara da Ni. Que se lixe, pronto, vai essa. Ai que olhe que tenho ali uma que ia adorar. Ora então mostre lá. Ai que linda. Pois, mas isto levava-me à bancarrota. Ai não, nem tinha pensado nisso. Mas estou a gostar tanto de si. Ai que simpática que é. Esta era para a sua lista de casamento. Mas... eu não vou casar. Então que idade tem? Pois... então é mais três anos. Ora, 2 de Junho de 2012. Estou a contar que cá venha fazer lista até essa data. Tenha lá calma. E tem de ser especial, que a menina também é. Posso tratá-la assim, oh Dra? Pode, pode. Pois... Olhe, então e tem desta colecção? Quem lhe ofereceu? Pois... não estou a ver. E... talvez a laranja. Não sei. Também gosto da preta. Espere. E conhece fulano?
E a temperatura a subir, a rapariga a suar, as pernas a tremer.
Não sei. Há tantas Marias na Terra.
Olhe é assim e tal e coisa e filho e irmão e tio e primo e afilhado e não sei quê.
Conheço.
Ah... não me diga.
Pois. Parece que sim.
Olhe lá. Casou?
Que eu saiba, não.
Olhe, R., é que eu estava aqui a olhar para si e a vê-la assim escolher e a simpatizar assim consigo e tenho de lhe dizer: que bem que ficava com fulano.
E eu, ainda em convalescença do episódio da editora, morro pela segunda vez em menos de um mês.
E desato a constatar como tal cor fica melhor nos móveis da Ni e que a parede da sala é em tons de burro quando foge.
E nada.
A senhora da loja onde, é certo, não me importaria de deixar uma lista de casamento, diz-me que eu ficava bem era com... bem... pois... esse.
E quanto mais ela fala, mais eu suo. E já me começo a sentir mal. E ou a senhora pára agora com isso ou eu desato já aqui num pranto. Olhe, se o conseguir convencer fica a saber que eu faço lista da loja toda. E ainda suborno os amigos para fazerem o mesmo. E convido-a e até lhe reservo banco na primeira fila. E se tiver dotes vocais, canta-nos a ALELUIA!
Eu esforcei-me. Juro. Mas a palestra continuou. Sobre as qualidades e o bom gosto e ai não sei que mais e no fim passem cá. E ai que já não o vejo há um tempo. E mande beijinhos.
E, cada vez mais sumida, como que paulatinamente enterrada no chão da loja, eu acenava que sim, sem voz, temendo gritar-lhe "And the winner is... YOU!".
Paguei.
Saí.
Já quase respirava de alívio à saída e ainda há tempo para a cereja no topo do bolo: Porque faz bem por continuar a acreditar em princesas. É uma. Não me esqueço. Não se esqueça também: tem até dia 2 de Junho de 2012.