Depois da festa, fui visitar as Tis. As Tis, tal como já contei em tempos, são primas velhotas, na casa dos 80 ou 90 anos. São duas manas. Uma casada com um Ti e outra viúva desde antes de eu nascer. As Tis gostam da minha mãe como de uma filha e de mim como de uma neta. E andavam numa lufa-lufa de telefonemas e recados desde que decidi descer uma escada de cabeça, numa aflição só enquanto não lhes aparecesse para me mirarem. Para as Tis, estou sempre na mesma: branquinha, com ar cansado, meia minguada nas feições, mas linda. As Tis adoram-me. E eu adoro as Tis. A Ti L. tem o filho em França e basta que lá passe uma semana para vir a dizer "ça va!". Foi ama do meu irmão. Dormiu comigo muitas noites em que tive febre. Ensinou-me a dançar a valsa. E ralhou-me alto e bom som quando num baile da terra deixei um colega da escola no meio da roda porque a mãozinha do moço não sossegava na cintura. A Ti C. é mais velha, casada com o Ti V., mais velho ainda. Mas são o espelho do amor. E vê-los é ficar perante a vida toda feita em duas pessoas. Sofreram os horrores de perder os três filhos. E lembro-me bem da quase loucura em que permaneceram quando isso lhes bateu à porta. Porque os pais não devem ver morrer os filhos. Sei de cor as arreliações mútuas que inventam para passar os dias a pensar noutras coisas. Mas o que me ficará para sempre, mesmo quando eles já cá não estiverem, são cenas como a de hoje. Ele a ajudá-la a pôr o lenço e a chegar-lhe o pente, depois de lhe ter tirado uns pelos traiçoeiros que lhe povoavam o buço. E ela, numa voz calma de quem sabe que não vale a pena falar a correr para se dizer tudo bem dito, a acrescentar que o homem é uma fortaleza que até se lembra das horas dos remédios dela. E ambos, depois, genuinamente empenhados em fazer-nos crer que a felicidade está em irem um antes do outro, porque sozinhos isto deve custar muito a levar. É o amor!
são estas histórias que me fazem sonhar e acreditar que o amor de facto existe:)
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