Cada vez que eu me ponho nesta luta contra o pó e a roupa suja, penso: tenho de contratar alguém. Depois, passadas umas horas, quando acabo, penso: ninguém fará isto melhor que eu. Aguenta, pequena R.
Sim, eu sou uma niquenta da pior espécie, tenho a mania das limpezas, gosto de lençóis impecavelmente passados a ferro, de louças de casa de banho a brilhar, de chão de madeira sem riscos, de varandas sem folhas secas, de louça arrumada nos sítios, de roupa dobrada e arrumada por cores nas gavetas, de sapatos limpos e dentro de caixas, de carteiras dentro de sacos de pano, de vidros sem dedadas, de cozinhas desinfectadas, enfim. Gosto da sensação de casa limpa, arrumada, cheirosa. ADORO. Adoro sentar-me no sofá e começar a trabalhar com esta sensação de dever cumprido. Mas o tempo que levo nisto, todas as semanas, sempre bem mais que uma manhã, é tempo em que não estou a fazer outras coisas. E não é que eu não goste de fazer isto. Eu gosto. É que eu gosto. E sou boa. Não é para me gabar, mas sou mesmo boa. Dou seguramente dez a zero a muita gente que ganha a vida a limpar casas. Acontece que isto não é a minha profissão. E eu tenho um sem número de coisas para fazer e parei tudo para me pôr a limpar. E dirão: então, limpavas para a semana. Acontece que eu não consigo. Eu não me concentro . Até arritmias me apanham na curva quando o pó começa a acumular-se, o cesto da roupa suja está cheio ou as flores da varanda murcham de sede. Sou bem filhinha de mãe, nestas coisas. Só que ela, com 4 pessoas em casa (agora 3) a sujar roupa, uma casa com três andares fora anexos e alpendres e um jardim do tamanho de umas quantas piscinas, teve de se render. Fica doente quando a F. parte alguma coisa e, pior ainda, queima uma peça de roupa. Não se zanga, mas fica muito triste. Em vindo o tempo quentinho, deita mãos à obra nos canteiros e antes de cada novo ano lectivo convoca-me inapelavelmente para a dita barrela geral em que os homens da casa dizem que parecemos possuídas. O meu pai jura que é mania, porque até lavamos roupa lavada. Não percebe que coisas dentro de gavetas ganham manchas. Portanto, eu sou uma alma indecisa, na dúvida. Não sei se me renda, se vá deixando andar. Depois soma-se outra coisa: a confiança na pessoa a quem se dá a chave de casa. A F. está em casa dos meus pais há mais de 20 anos. Viu-nos crescer. É como se fosse da família. Agora eu, aqui perdida na cidade, sem conhecer ninguém há mais que meia dúzia de anos, sou lá capaz de dar assim carta branca para que me dobrem as cuecas ou me façam a cama?! Estou numa indecisão. Penso que procuro uma boa doméstica... mas depois penso melhor e acho que... ainda não.
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