quarta-feira, 12 de setembro de 2012

À deriva

O anúncio recente de que poderá haver uma atenuação nas medidas de austeridade apresentadas ontem não me sossega. Exaspera-me, na realidade. Primeiro, porque acho que não vai acontecer. Dizê-las ontem em voz alta corresponde, mais ou menos, ao primeiro "não" convicto de uns pais de pedinchões. Custa, mas é para manter. Custa, mas, depois de dado o primeiro passo, todo o caminho parece menos penoso. Depois, porque, pela primeira vez, desiludi-me com o Vítor Gaspar himself. Tenho-o defendido e gosto dele. Acho que não se cercou dos melhores, mas concedo na dificuldade que é garantirmos que toda uma equipa se rege pelos mesmos padrões de exigência e escrúpulo que nós. Não sou fã de grandes equipas, salvo na solidariedade. No poder, sou tudo menos fã de equipas. O facto de existir um poleiro assume demasiado fascínio aos olhos dos galos para que possamos confiar na sua rectidão imperturbável. Na de todos, pelo menos. Tornei-me, com o passar dos anos, mais austera na avaliação do outro. E a razão é simples. Fui conhecendo muitas aliciantes pelo caminho e descobrindo como custa, muitas vezes, resistir-lhes. Ora, hoje, o meu Ministro das Finanças desiludiu-me. Deu-me a saber que lhe saem pela boca fora coisas em que pensou pouco pela sua cabeça. E eu não confio nas outras cabeças. E, sendo assim, pensar pouco nas coisas é grave. Vender-nos os discursos ao preço a que os compra, é irresponsável. E, numa altura destas, tudo aquilo que não pode acontecer é sermos governados por irresponsáveis.

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