Livros usados, canções de vários anos, sorrisos ao longe;
quando as coisas acabam procuras recados por todo o lado,
choras nos táxis, a tua vigília começa, virá a insónia,
a ameaça, nenhuma palavra é capaz de escrever essas
horas ou as últimas ramagens dos parques. Os versos
dos outros não servem, nem as tuas frases, nenhuma
palavra é capaz de dizer adeus com aquela perfeição
das coisas que comovem. Ficas calado, esse silêncio
protege-te de ti próprio quando o dia parte e as horas
passam. Tudo passa. O vento, o ruído dos aviões,
tudo o que há de mais profundo ou mais leve. Arde tudo
Essa luz acompanha-te durante dias . O que fizeste
da tua vida?, onde a procuras?, onde te perdes para que
tudo arda assim? Som estranho, o das margens de um rio
que nunca revela o seu tempo, nem o seu desencontro.
Francisco José Viegas, in Se me comovesse o Amor
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