sábado, 2 de maio de 2009

Português e outras matérias

Hoje encontrei a minha professora de português do 9.º ano. Estava eu já com as compras na caixa do supermercado quando ouço o meu nome dito baixinho e sinto uma mão amiga a percorrer-me o rabo-de-cavalo. Ainda sabe o meu nome inteirinho. E teve paciência para se lembrar que dizia que queria seguir Direito. Uma pena não ter ido para Letras, minha querida. Sempre achei que à última hora o coração a chamasse para aí... Mas um ar embevecido pela "carreira", porque sim, porque se lembra que merecia e até ver nada lhe diz que tenha deixado de merecer.
Está cansada. Tem o cabelo já muito branco. É ainda nova, mas pôs um olhar sem brilho quando lhe perguntei por ela. Que se vai indo. E enfim... fala-me antes de ti, que estás ainda a começar a vida.
Diz que há pessoas assim, capazes do sacrifício de nos poupar a uma má notícia só para não correrem o risco de nos ver escurecer.
Tive uma professora que concorreu comigo a um concurso de carnaval... e ganhámos! Eu tinha 6 anos! E um professor da primária que chorou na minha festa de formatura.
Tive um professor de história que me conhecia pelo andar.
E um de francês que me chamava "ma petite".
Tive uma professora de ciências que pede à minha mãe que dê beijinhos à menina R.
E um professor de latim que me mandou um telegrama quando fiz a última cadeira.
Tive uma professora de filosofia com quem tomei muitas bicas no Nicola.
E uma de matemática que vi chorar algumas vezes.
Tive um professor famoso.
Tive alguns professores loucos... e outros génios.
Tive até um professor por quem me apaixonei.
Tive outros, muitos, inesquecíveis quase todos.
Mas é quando, como hoje, encontro e sinto assim um deles, que tenho um momento de paz comigo. Porque eu acho que na vida também somos grandes pelo tamanho da saudade que deixamos em quem fica para trás.

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