sábado, 7 de fevereiro de 2009

Pois

...lentamente, as horas foram ganhando lonjura sem ti e as coisas foram perdendo encanto sem ti. ... fui escutando o que uma voz trémula me dizia. E teimando com ela que não, sua doida maluca, é lá isso agora?! Oh rapariga, tá calada e põe-te ao fresco. Tu não estás bem da cabecinha. Ai, ai, mas o que é que te está a dar?! E ela em berros, histérica em mim!
Esmagadoramente feliz só por te sentir, percebi que o caminho não tinha trilho de volta. Só podia andar em frente. E muitos dias bons se seguiram a esse, com a normalidade das paixões que crescem e que aquecem. ... Com a impaciência dos incompletos, até já via lá longe uma luz, quando.
Então tremi e calei. Não calei a voz, porque a perdi. Calei-me. Calei a pessoa que eu era desde o início do nosso segundo acto. E calei convicta de que a dor era tão grande e tão funda que eu nunca mais deixaria de me calar. E tremi. E não chorei, tão calada que era eu. Caiu o Mundo nesse dia e mataram a luz que eu via. Sobrevivi às escuras, lambi feridas e tive muitas recaídas. Até adormecer as dúvidas e saltar por cima delas, mansamente, com terror de as despertar.
Mas falhei e elas gritaram-me aos ouvidos, tão alto, sabes lá!? ... E caíam mudas as vozes, em mim. Ouvia-me respirar e só por isso é que nunca duvidei que não me tinham morto inteira. Só me tinham morto quase toda. E, olha, dei por mim a fugir delas, feita tola em direcção a nada. Mais coração que pensamento, fiz-me à estrada e corri. Quando parei, nem respirava. Era toda feita de náusea e desesperança. E ali fiquei. Sem me mexer. À espera de mim.
Retomei-me convicta de tudo, principalmente da tua ausência. E medi forças muito tempo, vencendo-me com um preço caro.
Só que há em nós vontades para além da nossa vontade e há em nós razões para além da nossa razão. São rebeldes as causas que evitamos sem convicção. Provam-nos sempre a fraqueza das decisões mal amanhadas. Nem queiras saber... toda borras de pintura duma vida a preto e branco, acordei ...
Amo-te, pá!
Será que isto não te chega para arriscares?!
(7 de Novembro de 2008)

Agora sei. Não.

2 comentários:

  1. É a tal coisa de nos sentirmos esfrangalhados, aos frangalhos e com "cacos" dentro chocalhando, teimosa e ditatorialmente ...impossível fugir-lhes ...or uns tempos.~
    Me too.

    Gostei muito do que vi, senti e li.
    Acho que a amiga que diz que deve escrever um livro tem "ollho". Também acho.
    Não sei se vai gostar, mas há aqui tiques de "Bridget Jones" ( ? ).

    Melhor mês.
    Bj.
    C (EN)

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  2. Querida C.
    Gostei! E deve haver mesmo tiques de Bridget Jones, porque em muitas coisas sou como ela... Acho que, em determinada fase da vida, somos todas... pelo menos se a vida não nos levar para outro caminho menos atípico.
    Só não bebo, porque não gosto. Aliás, detesto lavar copos de vinho. É uma mania.
    Também não fumo. O mais próximo que me aconteceu foi ter um desastre a acender a lareira cá de casa e ficar defumada.
    E não conto as calorias, sob pena de passar os meus dias em Coimbra... mas no Sobral Cid.
    Ah... mas tomei decisões de ano novo, publicadas no outro blog..., quase todas por cumprir.
    Sou uma fraquinha! Mas, como ela, não abdico de ser eu... até porque quando o faço o resultado é uma catástrofe ainda maior.
    ...
    Finalmente... sou fã de comédias românticas, choro com finais felizes, tenho mais jeito para ir jantar fora do que para cozinhar (excepto doces!), e quero o que toda a gente quer: ser livre, ser feliz, sorrir muito... e poder partilhar isso com pessoas especiais (umas mais especiais que outras!).
    Volte sempre. É um gosto recebê-la!
    Um beijinho,
    R.

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