terça-feira, 28 de maio de 2013

Fim do ano

Termino hoje as aulas. Despeço-me hoje, mais um ano, de uma turma nova. Aperta-se-me hoje novamente o coração. Tanto. Desta vez, não por não me sentir ainda em casa. Acabo por reconhecer que consegui ser feliz ali, que fui suficientemente apaparicada por quem manda para não ter de suspirar para sempre pelo tempo que ficou para trás. Ao longo do tempo, deram-me renovados incentivos a continuar, confiando em mim e impulsionando-me a fazer do dia por chegar um dia em que me apetece fazer mais... e melhor. Aconteceu ainda ter este ano alunos com os quais criei laços singulares. Rimo-nos muito. Quando falamos sério, falamos sério, mas rimo-nos muito... muitas vezes. Já uma vez (ou mais) disse que não quero ser só "a professora querida e simpática", quero que se apaixonem pela minha cadeira e que um dia, na vida, ao pensarem num caso real, se lembrem do exemplo que um dia lhes dei. Quero que se lembrem de mim como alguém sério e competente, mas que sempre os tratou com a semelhança que merecem. Digo-lhes sempre que somos exactamente iguais, que não me assistem vontades de temores reverenciais, que muitos deles hão-de vir a ser meus colegas, alguns, quem sabe, meus amigos. São mais novos, ainda lá não chegaram. Só isso. Adoro a minha profissão. Adoro. Farei isto com gosto pelo resto da vida, assim mo permitam. Não sou uma académica de excelência, não sou especialmente talhada para a investigação dogmática, não vibro com a tarefa solitária da execução de um doutoramento, abomino corrigir exames, canso-me ao fim de duas ou três semanas de orais e ainda não aprendi a deixar o meu lado tão menina em casa quando a reunião é demasiado formal e os interlocutores demasiado cheios de si. Pessoas que se acham tiram-me o brilho, sugam-me a luz. Formalidades dispensáveis incomodam-me. Mas adoro a minha profissão. Disfarço-me do que for preciso para poder falar e ser ouvida sobre uma coisa de que goste. Não por gostar de ser ouvida, mas por adorar perceber as ideias a nascerem na cabeça de quem me ouve. Adoro que me entendam, fazer-me entender. Adoro ligar os fios de uma coisa difícil e desconstruí-la ao ponto de a tornar simples, fácil. Tanto como de dar aulas, só gosto de fazer conferências. É uma coisa mais circunscrita, não cria a mesma vinculação, mas compensa-nos pelo facto de nos apresentar imensas pessoas, todas muito diferentes. Nunca me lembro de fazer uma conferência e de no fim não haver perguntas. Nunca. E por ali fico, a tentar saber quem é, que história tem, que dúvida traz. Adoro a minha profissão. Adoro os meus alunos. Hoje é um dia difícil.

E porque às vezes sou mimada, voltei a ler o texto que um aluno, bem mais crescido, no ano passado, me escreveu. Ainda hoje não consigo lê-lo sem chorar um bocadinho...

5 comentários:

  1. Parabéns por tudo o que tens feito! Mereces tudo isto! :);)

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  2. Adoro a investigação, a dogmática, o pensar nos problemas e tentar arranjar uma solução, os outros a terem ideias diferentes e eu a tentar superar o desafio de arranjar ainda uma solução melhor....Fico feliz ao fim de um dia de trabalho assim, de uma bela conferência como a que vi recentemente numa acção de formação do CEJ...Faria só isto a vida inteira. Mas não posso. Mas não gosto nada da reunião demasiado formal ou de "interlocutores demasiado cheios de si". :);)

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  3. que maravilha, parabéns! só pelo que escreves se vê que nasceste para isto, que respiras a tua profissão com uma naturalidade mesmo bonita. beijinhos!

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