quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O namorado, o companheiro, o marido, a nossa pessoa

Nunca deixo de fazer uma coisa ou de ir a um sítio ou de seguir com a vida com a normalidade das vidas das pessoas inteiras por estar sozinha. Convivo, conforme sabem os meus mais próximos, muitíssimo bem comigo. Acho que nunca senti essa coisa má a que chamam solidão. Todas as minhas tristezas e dores de alma por amores se curaram sem precisar de paliativos em forma de flirt. Em suma, sei muito bem o que não quero e com mediana competência vou trilhando o caminho na demanda do que ainda me faria mais feliz. Uma vez expliquei a uma amiga que a minha vida tinha dias óptimos e dias péssimos, como a de toda a gente e que, se tivesse de a avaliar, lhe daria um 17/18. É uma vida com coisas muito boas, com pessoas muito especiais, com um reconhecimento profissional conquistado a pulso mas que já me permite sentir algum orgulho em pequeninos feitos, enfim. Perguntava-me ela, nessa altura, se, então, não me fazia falta A pessoa. Faz. Respondi. Faz, mas só poderá entrar na minha vida se for para me manter a felicidade avaliada em 17/18 ou para me fazer ainda mais feliz e almejar um 19/20. Se não, não vale a pena. Para ter dez dias maus por cada dia assim-assim, não vale a pena. E é a verdade. As não relações fazem-me muita espécie. E há muitas não relações mascaradas de relações. Não sou imune às quedas e esfoladelas. Pelo contrário. Mas as minhas pessoas têm sempre conseguido dar-me, apesar de tudo, num determinado momento da nossa vida partilhada, muitos momentos de felicidade acima da média. É isso que as tem feito ficar e é a ausência disso que me tem determinado a deixá-las ir. Apesar de tudo, há dias em que todas estas certezas se apequenam. Em que não há abraço de amigos que me cure por inteiro. Em que uma amiga e a filha terem-me ligado há pouco só para dizerem que gostam de mim e darem-me um beijinho ainda não me preenche. Em que até a voz da minha mãe a dizer "Já passou!" ou "Vai ficar tudo bem!", com o condão de me serenar o coração, deixa espaço para algum vazio. E é nesses pequenos e espaçados instantes que eu penso se não seria aqui que entraria A pessoa. Que eu não sei quem é, mas que talvez exista. Talvez se hoje, durante o funeral, lá tivesse estado, me tivesse custado menos. Talvez se agora, aqui sentado no sofá, me dissesse que terça feira ia comigo ao Porto porque não quero ir sozinha de carro e ontem voltei a enjoar tanto de comboio, me passasse o medo. Talvez se me dissesse que não fiz mal em dizer à L. que o namorado dizer-lhe que ela não é de confiança porque só tem colegas homens não é normal, me aquietasse o espírito. Talvez se, em dias em que o meu e-mail não passa de uma enorme fonte de problemas, me pedisse para fechar o computador, os dias seguintes acordassem com soluções. Talvez. Ou então não... e isto é tudo um enorme disparate.

6 comentários:

  1. Ou não é, kika. E tu sabes isso muito bem. :)

    ResponderEliminar
  2. Eu sei que não sou a pessoa... mas, queres que vá contigo na terça-feira. Sei o caminho, levo o meu carro e espero por ti. Se quiseres vou e marcamos o jantar para outro dia.

    ResponderEliminar
  3. obrigada por me fazeres sentir que não sou a única... não consegui foi conter a lágrima que caiu :')

    ResponderEliminar
  4. Podia ter sido eu a escrever isto, tal e qual... mas não me sinto só, nem sofro de solidão...

    ResponderEliminar