Foi no tempo mais que perfeito que estivemos hoje, desde quando desceu a tarde até que a lua se deitou. Hoje, foi a festa dos avós. Se na missa cada poema cantado foi escolhido a dedo, depois não podíamos ter sido mais felizes. A minha avó, porque nisto, está visto, é ela que dá mais cartas, disse-nos, já perto da hora dos adeus, que tem muito orgulho naquilo que fez na vida: uma família. Acho que deve ter, mesmo. Reuniu filhos, filhas, noras, genros, netos e bisnetos à mesma mesa, mais uma vez. Fez-nos dar graças pelos dons da vida, do pão, da saúde, da amizade, do amor. Rezou. Divertiu-se. Chorou a rir. Contou mais uma vez todas as histórias. Sorriu mais muitas vezes para as fotografias. A minha avó e o meu avô apagaram as velas do bolo dos 60 anos de casados de mão dada. E deram um beijo na boca depois disso. Quando o padre pediu que se chegassem ao altar, o meu avô deu-lhe a mão para ela não ter de levar bengala. E ela ajeitou-lhe o nó da gravata. A sério. Se isto não é ter um exemplo na família, não sei bem o que será!
Entretanto, porque muita gente junta sempre deu para grandes perigos nesta família, algumas pérolas da noite:
R: Avó, então tu tinhas 16 anos e o avô tinha 30. Como é que se apaixonaram?
Avó e tia mais nova, em uníssono: De todos os aqui presentes deves ser a que melhor sabe como é que se dão essas paixões.
R.: (Engole em seco e enfia a sua violinha no saco)
...
Avó: Estamos muito felizes, muito orgulhosos de todos e muito agradecidos a Deus por nos permitir chegar a este dia. E que todas as famílias tenham este ano e todos os que estão para vir muitas graças. E que a nossa não seja excepção.
Tia mais nova: Este ano, a R. casa e com jeito ainda lhe dá a notícia de mais um bisneto a caminho. Quer mais graças?
Avó: (Sorriso cúmplice)
R.: (Engole em seco e mantém a violinha no saco)
...
Tia mais nova, do nada: Então e o N.? Está tudo bem com vocês?!
R.: (Já nem engole bem em seco e já perdeu violinha e saco)
A sério... eu vou deixar de convidar estas duas para as festas. Elas fazem muitos filmes... Ou, em versão menos cuidada, por que razão tenho eu tanta fama?!