quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
British R.!
Há muitos anos atrás (bem... há, deixem cá ver, 11 anos atrás), os meus pais enfiaram-me num aviãozinho com duas amiguinhas e bora lá para Cambridge que inglês é a língua do futuro. Era Verão, um caliente Julho em Portugal, e eu cheguei ao destino e gastei logo metade das economias em roupinha quente que o briol não se aguentava. Tive aventuras inimagináveis por aquelas bandas. Para aí ao terceiro dia fui experimentar o meu fashion cartão de débito, que era uma novidade, e a máquina fez o favor de mo engolir. Entrei no Banco lá do sítio e, lavada em lágrimas, só consegui verbalizar "Your machine ate my credit card. Bad machine!"... Desde então que tenho um pavor grande daquelas matulonas mastercard... é um trauma adolescente. Comi comida que, nhac, valha-me Deus... mas a fome é negra... E, à vinda, tive a feliz ideia de me sentir um bocadinho sem ar no avião e perguntar onde é que se abria a janela :) Enfim... Mas o tempo lá foi uma lição grande para a vida. Fiz uma amiga que dura até hoje. Que veio do país dela até cá para me dar um beijinho de parabéns no dia da minha festa de curso... Apaixonei-me loucamente por um tipo com sobrenome italiano... Aprendi a estar longe dos papás e a desenrascar-me sozinha. Fui a festas e noitadas. Vi a lua à beira rio, a falar inglês com uma chinesa com quem troquei correspondência muito tempo, e com os dois tipos de sobrenome italiano que desencantámos lá no grupo. Fiquei fã do teacher, que ainda há bem poucos anos me enviava postais de aniversário que começavam por "My dear"... Fui ao botânico mais bonito que vi até hoje. Vi quadros de pintores à séria e fui para a bibilioteca do museu deles treinar o past continuous. Quando regressei, tinha apanhado o bichinho do laró. A verdade é que quem me der um bom laró me tem por bem. Ao contrário da maioria das pessoas, no entanto, eu não vou à bola com larós de praia e águas cristalinas, ou de neve e sku. Eu vou à bola com larós que metam monumentos, que metam calcorrear ruas velhas e avenidas novas, que me permitam espreitar a fumaça dos cafés e sentir o cheiro das beatas das tertúlias. Eu vou muito mais à bola com larós onde conheça e aprenda, seja possível o fascínio da descoberta da cultura, da arte, da tradição. A minha viagem a Cambridge ensinou-me isso, fez-me descobrir-me enquanto viajante. Depois dela, já fiz outras, algumas..., mas aquela foi sem dúvida uma grande viagem. Não foi a primeira, mas foi a primeira em que fui alone. O inglês foi sendo muito negligenciado, até ao ponto de conseguir apontar para frases ao melhor estilo "Do you parle english"... Era preciso agir... Rápido! Vivi, enquanto estudante, quatro anos ao lado do British Council cá do Burgo, mas a minha vida de caloira e pós isso entendeu sempre que quando acabasse o curso havia tempo para me dedicar a tarefas mais imponentes como estudar por conta própria. Voltei agora. Volvidos 11 anos sobre a minha viagem, 5 depois de ter abandonado a casa ao lado da escolinha. E isso foi, nos últimos tempos, a melhor decisão da minha vida. Não que lá ande a aprender muito, que não ando... mas aquela turma faz-me bem... Um bem... insuperável em qualquer aprendizagem... Um bem genuíno, de me deixar livre, leve e solta, esquecida dos problemas do dia. É uma turma catita, muito diversificada, com gente dos 16 aos 66... e vai daí e... simplesmente espectacular! Já marquei saídas, programinhos e jantaradas, prática que me vale a alcunha de "falas de mais". Quase que até se ia dando um romance, não fosse o tipo apresentar-se com um próprio N. e um apelido S., o que, para mim, é uma conjugação que não permite chegar longe... Ia sendo isso, mas já foi muita coisa. E o que mais é, o que nunca deixa de ser, é umas horas bem passadas ao fim de dois dias da semana. Hoje é um... e eu tenho de ir. No resto, é ir levando. E, às vezes, voltar atrás e recuperar o que se perdeu. Como o inglês. E... so much more! Maybe!
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