segunda-feira, 3 de junho de 2013

O mano, os irfilhos e a SMS

Este post da SMS deixou-me tão comovida, tão comovida, que não pude deixar de vir cá falar dele. O conceito de irfilhos, que ela inventou e eu subscrevo, permite-me, apesar de ainda não ser mãe, comover-me com este texto. O facto de o mano ser mais novo que eu onze anos fez de mim uma mana muito galinha, um sucedâneo de mãe muitas vezes. Não posso esquecer-me que a minha mãe sempre trabalhou fora de casa, nos primeiros anos de vida do mano, muito longe, que saía cedo e chegava tarde, que o pai passou a vida a levantar-se quando ainda dormíamos e a deitar-se quando já dormíamos. Não posso esquecer-me que esta diferença de idades me fez assumir muitas responsabilidades que os irmãos mais próximos desconhecem. Fui muitas vezes levar e buscar o mano à escola, à música, à natação, ao inglês, aos aniversários dos amigos, à explicação de físico-química, enfim. Estudei muitas vezes história com ele, ajudei-o em muitos trabalhos de ciências, corrigi-lhe muitas composições para português, respondi-lhe muitas vezes "Vai ver ao dicionário" à pergunta "O que é isto ou aquilo?", tal como a minha mãe sempre fez comigo - "Vai ver ao dicionário. Só assim nunca mais te esquecerás.". Por isso é que a fase da gaveta, a adolescência da parvalheira, em que lhe deu para sujar o cabelo com gel mal acabava de tomar banho (eu tenho uma má relação com o gel...), em que inventou que queria usar as calças ao fundo do rabo, conhecendo como único calçado apetecível os ténis, inclusive no Verão, dizia, por isso é que esta fase também não me é desconhecida. Aquelas ganas que sobem por uma pessoa acima, em que só nos apetece virá-los do avesso, deitá-los no colo e desfazer-lhes o rabo com palmadas, em que temos de morder a língua para não sermos mal educados, porque nos tira do sério aquele ar de que, não fosse o facto de eles existirem, todo o mundo seria composto, em exclusivo, por atrasados mentais, bulia-me muito com os nervos. Tive discussões de meia noite com o caramelo quando chegou o dia em que se lembrou que não nos dava beijos à porta da escola. Queria sair do carro e ala que se faz tarde. Não saía dali, fazia-lhe autênticas lavagens cerebrais, dizia-lhe que os meninos que gozavam com o mimo que nos unia o faziam por pena de não conhecerem mimo igual. Acho que, a dada altura, o fiz perceber. Ainda hoje, coisa de que tanto me orgulho, o meu irmão dá beijos na careca do meu pai, onde estiver, com quem estiver. Acho que o engrandece, que faz dele o homem que sonhei que um dia viesse a ser. Por isso é que este texto da SMS me tilintou cá dentro, me chocalhou nos arrumos do coração e me fez marejar os olhos de lágrimas. Tive muito medo de perder o mano, tive muito medo que a estupidez nunca lhe passasse, tive muito medo que o vínculo mágico que faz de mim a irmã rendida que sou... um dia sumisse. Não o suportaria. Amo o mano com todas as minhas forças. Não quero imaginar o difícil que me vai ser, um dia, Deus permita assim aconteça, em que um filho se virar para mim ou para o pai e desatar a armar-se em parvo. Fica escrito. Hei-de voltar aqui ao blog, ler novamente o texto da SMS e, inspirando a vagar, convencer-me, cheia de amor, que a adolescência não há-de matar-nos.

6 comentários:

  1. O conceito de irfilhos é muito interessante. Infelizmente não o conheço na pele porque não tive irmãos. Com muita pena minha!

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  2. Eu também tenho uma irfilha! Adorei e comovi-me com o post da SMS, mas não me comovi menos com o teu querida R.
    Beijinho

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    1. Ooohhh!!! Tu é que és sempre uma querida comigo! Beijinho*

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  3. Tenho dois irmãos mais novos. Um tem menos 3 anos e meio, o outro 11. Com o mais velho partilhei brincadeiras, segredo, jogos, bulhas, cumplicidades próprias de irmãos próximos em idade. Como diz a minha mãe, fomos mais ou menos educados ao mesmo tempo. O mais novo teve pais a dobrar: um pai e uma mãe já não tão novos assim, e uma irmã e um irmão que, muitas vezes, foram mãe e pai. Revejo-me em imensos dos pormenores que descreves: era eu quem lhe contava histórias (quantas vezes pedidas aos domingos de madrugada!) e acompanhava as cantigas que cantava ao piano. Festas de anos, consultas, trabalhos de casa, estudo, bolos, etc, etc, etc... de tudo fiz um pouco. Quando nós, os manos mais velhos, saímos de casa, sentiu imenso. Tanto que, em cada sexta-feira à noite, quando eu voltava de uma semana de trabalho, descia todas as escadas do prédio (era um 3º andar sem elevador!) e levava-me a mala ou o saco para cima. Sempre, semana após semana. Aí percebi que, por muito que crescesse e mudasse, por muitas que fossem as parvoeiras da adolescência, ainda era o mesmo. Que um quinhão do adulto extraordinário que ele é hoje também se deve a mim. Que por mais cabelos brancos que lhe comecem a nascer ainda tem o mesmo olhar. Que por mais zangas e discussões que tenhamos haveremos sempre de lhes saber dar a volta e resolvê-las. O meu irmão mais novo, o bébé a quem eu mudei fraldas, dei biberões e papinhas, parte daqui a uns meses para trabalhar longe. Vai-me custar. Imenso. Mas saber que, em certa medida, contribuí para que se tornasse nesta pessoa que nos enche a todos de orgulho, dá-me a certeza de que, pelo menos nisso, algo de bom fiz nesta minha vida...
    Desculpa o longo desabafo. Mas não resisti.
    Um beijinho,
    Marta

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    1. Eu hoje estou de todo... Já me fartei de chorar a ler também o teu comentário...
      Lembrei-me que o mano contou as noites em que estive de Erasmus, que dormia o último sono dos domingos de manha na minha cama, que adoeceu quando eu entrei na faculdade e que um dia, enquanto me via chorar por ter tido um 14 a história, se virou para mim, do alto dos seus 4 anos, me pegou na mão e, muito comovido mas determinado, disse "Oh mana, deixa lá. A tua professora é uma puta!" :)
      Somos umas babadas, é o que é! E eu sou uma cunhada horrível. Faço marcação cerrada à namorada do mano. Sempre que a garota é mais melosa com ele, viro-lhe uns olhos... e, meio a brincar, meio a sério, lanço um "Se magoas o meu mano, eu conto-te uma história, minha menina... É que não é mais ninguém que ta conta, sou mesmo eu!" ;) E quando ela lhe faz festinhas na barba?! dá-me uma vontade de lá ir dar-lhe uma palmada na mão e dizer "Sossegadinha, se faz favor... Que é que vem a ser isto?! Que raio de intimidades são essas?! Mau... vou ter de me chatear?!" :)
      Beijinhos, querida!

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  4. Um beijinho às mães que permitem irfilhos, pois todos ficam a ganhar! Quando não permitem irfilhos...perdem todos, mas elas são as primeiras a perderem. Só vêem mais tarde. Mas, depois já não se pode voltar atrás. O que se vier a construir já será outra coisa ;):)

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