sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dos amigos

Parece que a Oprah disse há tempos que toda a gente quer andar connosco de limousine, mas o importante é encontrarmos alguém que queira acompanhar-nos se tivermos de andar de autocarro. Esta afirmação, que encerra semelhante lição à nossa tradição de assumir que é no hospital e na cadeia que se veem os amigos, para mim, reduz a complexidade da questão. Na realidade, não acho nada que seja na desgraça que os amigos se revelam. Ou, pelo menos, todos. Cada pessoa é diferente. E já houve quem se tivesse aprontado a ficar-me perto em momentos piores e não tivesse suportado a luz das minhas maiores vitórias. Porque para determinadas pessoas é mais fácil a comiseração, o sentimento de protecção, a assunção da responsabilidade por apaziguar o outro, sempre mantendo a certeza de estar na mó de cima, que aceitar, genuinamente, a felicidade de ver um amigo melhor, um amigo que ganha asas e voa... alto, enquanto àqueles amigos a terra firme continua a ser o poiso certo. Por isso, não entendo que os amigos sejam aqueles que se dispõem a ir connosco no autocarro, ou a pé. Os amigos são aqueles que nos admiram pelo que somos, independentemente do facto de nos acompanharem numa carroça ou num veleiro. Os amigos a sério, os que valem a pena, não têm pena, têm respeito. Os amigos não são caridosos, são solidários. Os amigos com A são os que lidam contigo exactamente da mesma maneira independentemente do modo como te apresentas... e que ficam realmente felizes quando tens mais que eles, és melhor que eles no trabalho, tens uma casa maior, um carro mais novo ou mais viagens no curriculum. É que os amigos, os mesmo amigos, não conhecem a dor de cotovelo.

4 comentários:

  1. É por tudo isto que acabas de escrever que eu acredito que amigos com A cada vez serão menos... pq falsos amigos é que há mais por aí...
    (perdoa-me o desabafo, mas nunca um post teu me acentou tão bem)!
    E tu claro que és special:):)Bjs

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  2. Acho que tens razão quanto a ser-nos naturalmente mais fácil acompanhar alguém que nos pareça que está pior do que nós do que alguém melhor. A "natureza humana" é mais assim, e é triste.

    Só não sei se a amizade se definirá por esses critérios. Não sei sequer se a amizade tem definição ou critérios! A amizade explica-se? :)

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  3. O.,
    tens de me contar o que se passou. Não gostei nada deste comentário.
    Beijinho, querida!

    Raquel,
    estes não são OS critérios, de todo. Aliás, nota que os resumi ao ter. Não faço ali referência a ser-se mais feliz, viver-se um amor maior ou ter um filho desejado como formas de "testar" os amigos para ver quem fica. Não. Portanto, a amizade não se resume àquilo, claro. Agora, se aquilo não faz um amigo, a verdade é que acho que aquilo também faz (numa proporção pequenina, concedo) um bom amigo. Porque o bom amigo não pode ter inveja, dessa inveja má, dessa inveja que envenena. Acho eu...
    Beijinhos*

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  4. Pois, é isso... é que também há inveja boa. :) E eu tenho-a tantas vezes! Não é desejar menos aos outros (nem pensar!), é ficar tão feliz por eles que damos por nós a querer experimentar o mesmo. Adoro a inveja boa! :)

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