quinta-feira, 5 de setembro de 2013

E não sei quando foi que nos perdemos...

Foi a minha amiga de infância. Brinquei com ela a tudo e mais alguma coisa. Soube de todas as suas paixonites agudas até aos 15/16 anos e vice versa. Era em casa dela que os meus pais me deixavam quando saíam à noite. Vimos juntas todos os Festivais da Canção e da Eurovisão. Era ela que sabia que nos jogos simbólicos eu gostava mesmo era de ser empregada de mesa e usar um bloco e uma caneta para assentar os pedidos. Apanhámos barrigadas de nêsperas e inventámos o famoso chá de urtigas. Foi ela que me confirmou os boletins de inscrição na Faculdade. Foi ela que esteve comigo na fila da Secretaria Geral. Durante quase vinte anos passámos pelo menos uma semana de férias juntas. Foi a minha melhor amiga anos a fio. E, de repente, a vida a afastar-nos. Não sei quando nem porquê, mas sumimo-nos. Caiu na tentação comum de, ao iniciar uma relação, se afastar de tudo... e de todos. Virou siamesa e nunca mais ponderou sequer um café ou um lanche fora se ele não pudesse estar presente. Não viajou. Pedi-lhe que fosse encontrar-se comigo em Itália. Não foi. Desafiei-a para escapadinhas. Nunca quis. Devo, naturalmente, ter falhado também eu, que me cansei daquele mel constante e achei que a dada altura me faria bem arejar a cabeça com gente que não acabasse todas as palavras em inho. Nunca me esqueci de um aniversário dela. E a verdade é que ela também nunca se esqueceu de um aniversário meu. Mas deixou de fazer festinhas e passou a ter sempre, só, jantares a dois. E deixou de comparecer às minhas festinhas porque a ele não calhava em caminho. Apoucou expectativas, deixou-se ficar. Chateou-se a sério comigo quando, sendo ela professora desempregada há mais de um ano, senti que devia levantar-lhe a voz e mandá-la fazer-se à vida. Preferiu continuar a viver-lhe na sombra, sempre atrás dele como se não pudesse perdê-lo de vista. E eu fui-me cansando. Não devia, eu sei. Devia ter tido a nobreza de entender, de aceitar, de continuar lá. Mas enfim... Não o fiz. Encontrei outras pessoas, com as quais pude falar do que ela já não queria ouvir. Pude fazer uma melhor amiga sem ser ela, encontrei outra confidente e fomos, cada vez mais e mais, sumindo-nos uma da outra. Passam meses inteirinhos sem que eu a veja. Nunca deixei de comparecer na segunda da Páscoa em casa dela, mas há anos que ela falha no domingo em minha casa. Nunca deixei de ir a uma festa da sua aldeia, mas há anos que ela não vai à festa da minha, porque não dá jeito ao namorado. Não sei nada dela. Não estou a par. Não tenho forma de achar o fio à meada da sua história. E tenho muita, muita, muita pena. Esta noite tive um pesadelo terrível. Terrível. Não lho contei, mas precisei saber se estava bem. Tentei ligar, não me atendeu. Mandei um sms, pedi-lhe que nos encontrássemos, que fosse dando notícias. Respondeu-me de uma maneira um bocadinho tonta. Perguntou-me se já tinha voltado ao trabalho e se também chove por cá. Dá-me vontade de chorar. Não consigo chegar a ela. E é impossível que não esteja a precisar de mim. Merda para isto, pá. Que tristeza.

3 comentários:

  1. acho que todos nós temos uma pessoa assim na nossa vida. feliz ou infelizmente o tempo muda muita coisa.

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  2. Envia-lhe uma mensagem.

    -" Tenho saudades tuas, fazes-me falte".

    erva doce

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  3. A minha melhor amiga dos tempos de estudante afastou-se por completo quando ela entrou na universidade e eu não...há cerca de 9 anos tentei contacta-la mas ela simplesmente não quis... é a vida!

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