quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Beta

Faz hoje 10 anos que morreu a Beta. A Elisabete. A Beta foi minha colega de escola e aventuras entre o 7.º ano e o 12.º. Pertencia ao grupo com quem jogava às escondidas na sala de mecânica e que estudava as declinações latinas nos jardins do liceu. A Beta trabalhou umas férias inteirinhas no tabaco para comprar os dicionários de Latim. Queria ser professora. Tinha média para entrar em Coimbra. E estava no auge. A Beta era filha da Cidalina, cuja broa era a mais famosa da zona. A Beta trabalhou outras férias inteirinhas para poder tirar a carta. Um dia, foi mostrar que já sabia conduzir e descontrolou o carro, que caiu no poço que sempre existira em frente à sua casa. A Beta tinha cinto. O cinto não se abriu. E a Beta morreu, afogada, no poço em frente à sua casa. Faz hoje 10 anos. Dia 17 de Setembro fará 10 anos que soubemos todos, os daquele grupo, que tínhamos entrado exactamente no que queríamos, exactamente onde queríamos. A Beta também. Mas nunca chegou a ser caloira. A Beta não foi ao baile de finalistas do liceu porque já andava a poupar para o vestido do baile de gala da faculdade. A Beta morreu. E ficou cá tudo. Tenho saudades. Dela e do que nunca chegámos a viver. Temperadas por uma lembrança suave, primaveril, amiga, constante, do que fomos.

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