sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Desabafos

Hei-de criar um blog absolutamente anónimo, penso para mim tantas e tantas vezes. Um daqueles em que quem escreve não é (re)conhecido por ninguém que lê. Um daqueles em que se pode dizer tudo e mais um par de botas sem delicadezas. Um daqueles em que até os desabafos mais insuspeitos têm lugar. Se já me calo por meia dúzia de pessoas, imagino quem tem blogs públicos. Aquilo há-de cumprir, que cumpre, uma missão importante de entretenimento, quer para quem escreve, quer para quem lê, mas, quanto mais público, menos fiel ao que se passa no dia a dia das pessoas. Parece-me a mim. Não vão aborrecer os seguidores e assustar as marcas com desabafos cinzentos, às vezes negros, dos dias piores, daqueles em que já não se pode ver ninguém e a vontade é mandar meio mundo à merda. Há dias desses. No meu caso, tenho alguns. Ando numa fase em que são frequentes. Estou cansada que me perguntem pela barriga e se esqueçam que tenho um filho que também é bebé. Estou cansada que opinem sobre a retenção de líquidos que faz os meus pés incharem e parecerem balões. Estou cansada que se imponham, em presença, numa fase em que quero é paz e sossego. Estou saturada de gente que acha que estar grávida é igual a ter um ligeiro desconforto. Fico tristíssima quando a ideia parte de quem tinha obrigação de saber que estar grávida dói. Que estar grávida no verão e a pegar num filho de 12 quilos dói mesmo para caralho (nunca escrevi esta palavra, mas aqui assenta que nem uma luva), que virar na cama implica sentir que a anca se vai desconjuntar a qualquer momento e que calçar sapatos, enfiar as cuecas, lavar a cabeça ou apertar os fechos de trás de vestidos são tarefas que implicam algum suor para serem executadas. Estou mesmo cansada de quem não ajuda. De quem pede compreensão e se esquece que está a falar para uma pessoa a semanas (quem sabe dias) de parir. Estou tão triste com quem pede doçura e não é doce. 

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