Não desapareci. Estou só a ver se me aguento em pé até ao dia das provas de doutoramento e se, pelo caminho, ainda me mantenho suficientemente funcional para dar aulas, falar em conferências e escrever artigos. Bem podem dizer-me que não é preciso isto, que vai correr bem, que já passa, que é um grande alívio, que Agosto está logo ali. Eu é que sei o que é voltar a ter ataques de pânico, mãos que não obedecem, uma cabeça que teima em percorrer caminhos densos e escuros de cenários de horror. Eu é que sei o que foi passar quase três semanas sem dormir uma noite decentemente e ter de, ao 34 anos, vergar o orgulho perante uma médica e dizer "Eu não consigo sozinha!". Acuso agora, muito provavelmente, o que foi o processo de realização desta tese: tão apressado, tão alheado, tão cheio de tantas outras preocupações muito maiores. Sinto agora nas palpitações todas que teimam em não deixar-me posta em sossego um momento, a inquietação maior de saber que o trabalho me saiu escorrendo pelos dedos, enquanto, muitas vezes, olhava para o lado ou a minha cabeça já se passeava por aqueles caminho densos e escuros. Não é falta de confiança no que está feito. É uma sensação que só faz crescer todos os dias e que me grita de dentro para fora "E se não chega?!". Volto quando for capaz.