Continuo com muitas coisas para dizer. Umas mais pequeninas e outras maiores, todos os dias tenho tido coisas, muitas, para dizer. Não tenho sequer escolhido não as dizer, tem acontecido de não saber bem como dizê-las e de, na dúvida, estar a preferir manter-me calada. Tenho tido o coração dividido por muitos sentimentos diferentes e viajado, sentada no meu sofá de casa, ao melhor lugar de mim. Depois, como se o tempo ainda não tivesse todo passado, nem levado a dor fininha de há uns tempos, mergulho numa melancolia que me tolhe o riso. Vou caminhando, devagar, para não o fazer sem os pés firmes, em direcção ao que tenho acreditado desde há muito que é o meu lugar feliz - um coração em paz, a certeza de não estar sozinha, a incontornável evidência de que não me transformo em nada que seja um dia uma sombra de mim. Vou caminhando devagar, para não cair. Vou caminhando rodeada dos pais e do mano, sempre lá, dos amigos que não desarmam, do futuro a nascer todos os dias pela manhã e a prometer-me mais, sempre que recolho ao sono. Vou caminhando devagar, com o B. pela mão.