Há uns anos atrás, li, muitas vezes durante a noite, duas teses de doutoramento de fio a pavio, discuti ideias e sugeri alterações. Hoje, a braços com a minha, tenho muitos amigos a ajudar (uns lêem, outros ajudam a escrever coisas, há o M. que me fez a capa, dezenas trouxeram-me livros dos mais diversos sítios do mundo, tantos aparecem só para dar um beijinho, imensos telefonam só para dar uma palavra amiga, sei lá...), mas daquelas duas pessoas, das pessoas a quem também eu ajudei numa tarefa destas, nem sinal. Nada. O mais profundo e seco silêncio. O N., que é um dos meus melhores amigos e alguém que tem vivido esta tese de muito perto, conforta-me, diz-me que não tem mal sentir uma ponta de ingratidão nisto tudo, que não estou a ser má, estou só a ser humana. No outro dia, enquanto me recolhia mais meia dúzia de artigos e mos vinha deixar propositadamente a casa, encontrou-me outra vez a pensar no mesmo e resumiu esta coisa que me abala os fígados. De facto, quem me ajuda, tal como eu, quando ajudei, não o faz numa lógica pura de reciprocidade, à espera seja do que for, além de um "muito obrigada"! Acontece que, porém, lá no fundo surge como absolutamente natural um empenho semelhante numa outra hora em que também tenham uma coisa destas em mãos. Não me passa pela cabeça não ajudar o N. (a seguir, fazemos a dele, dê por onde der!), o G., a H., a C., o M., o meu homem e todos aqueles que agora me fazem sentir que, aconteça o que acontecer, não estou sozinha... Por isso é que, por mais voltas que dê à cabeça, não entendo. Não entendo este vazio, este telefone sem tocar, nem que seja para dizer que estão a rezar para que corra tudo bem. Não percebo. E, honestamente, magoa-me um bocadinho.