terça-feira, 9 de setembro de 2014

Esfrangalhar

Fazer uma tese é uma coisa que me esfrangalha, que me deixa abaixo dos limites, que me suga a luz, a paciência, a energia, o humor e o brilho. Pode haver quem goste disto, que cada tolo com a sua mania, mas eu não gosto. Não gosto nada. Detesto muito. Tenho um medo permanente de falhar, uma dormência mental que me enerva, uma vontade louca de trabalhar e uma produção pouco a condizer, um sonho que quase toco com as mãos, de tão grande e vívido que é, de a acabar, e uma certeza muito pequena de o cumprir. Não acho nada que uma pessoa seja mais feliz por escrever mais coisas, coisas maiores, mais reconhecidas, mais inovadoras, mais eficazes, mais duradouras. O que faz uma pessoa feliz é dormir em conchinha, porra!!! É acordar com um beijinho de bom dia, é ter um mano que dá xis apertadinhos, amigos que nunca falham e o conforto de um colo de pais. O que faz uma pessoa feliz é o coração cheio de gente, gente daquela que nos trata pelo diminutivo e não pelo nome profissional, daquela que incluímos numa lista de casamento, a quem podemos apresentar um bolo a que se perdoa o mau aspecto pelo sabor a caseiro. O que faz uma pessoa feliz é ter para onde voltar e continuar a viver com capacidade para ir. É saber o seu lugar no mundo e perceber que o mundo lhe abre uma clareira de cada vez que é preciso mais espaço... e tempo. O que faz uma pessoa feliz não é o momento em que descobre uma citação, a convidam para uma conferência ou recebe um mail em que lhe elogiam as aulas. Isso passa. Insufla o ego, mas passa. Esta tese está a esfrangalhar-me. Está a deixar-me apática para o mundo, atada de mãos e pés para as coisas boas da vida, culpada de não viver nem a ver a acabar-se como devia. Há dias em que parece que me puseram num beco. Daqueles sem saída. E só me apetece dizer que isto, não sei como, nem quando, tem de acabar. Se for este ano e com um trabalho mediano entregue, faço uma festa. E vou ser feliz. Com o que interessa.

5 comentários:

  1. Fez todo o sentido este texto para mim, neste momento. E, portanto, tenho que agradecer... ;)

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  2. É estúpido o que vou dizer, por isso perdoa-me... quer-me parecer que estás no bom caminho para dares cabo do dragão... Foi depois de me esfrangalhar ao ponto de ter informado todos os interessados que já não ia escrever mais uma linha e que não fazia doutoramento nenhum que arranjei (mais vontade que) força para terminar a minha! Continua em frente mesmo custando muito e aproveita as conchinhas todas e os beijinhos todos... vistas agora as coisas, é daí que a coragem vem!

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  3. Só mais uma forcinha:

    "Ao Ricardo agradeço por me ter dado a força necessária, na forma do mais bonito amor, para matar todos os dragões e por ter desembainhado a sua espada quando eu já não tinha força para erguer a minha. Temo que não seja possível traduzir em palavras a majestade importância dos seus gestos."

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  4. Quando encontras um beco sem saida recua e procura outro caminho.Se seguires em frente dás com a cabeça na parede. Força R!!!!!!EU ACREDITO EM TI!!!!!

    Erva doce

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  5. Esse sentimento é-me familiar....e sim, é desesperante. Ainda hoje, com a tese "feita", quando olho para trás...é o que sinto. Foi um desespero! Mas acabou! :)

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