quinta-feira, 18 de abril de 2013

Miss u

Borboletinhas na barriga, mãos a suarem frio, vontades indomáveis de superar a preguiça e pensar melhor naquilo com que pretendo sair à rua, se é mesmo para ir de cara lavada, se o cabelo pode mesmo parecer um ninho de ratos e se as unhas podem mesmo estar com a pintura a dar as últimas. Não é novidade que gosto de gostar, muito mais do que de não gostar. Tenho mais jeito para alimentar gostares que ódios de estimação. Esqueço-me com frequência por que é que deixei de apreciar esta ou aquela pessoa. Lembro-me, todos os dias, em compensação, do tanto que aprendo com os meus, do tanto que estes me fazem melhor pessoa. Enfim. Por tudo isto e mais um par de botas, gosto de me apaixonar. Gosto de me apaixonar por livros, por músicas, por vestidos, por sapatos, por brincos, por carteiras, por paisagens, mas sobretudo por pessoas. E, às vezes, de me apaixonar naquele limite da paixão mais óbvia, da que sustenta o bicho andarilho que parece pegar-nos o coração nas mãos e dar-lhe, ao ouvido, devagarinho, argumentos imensos para que se queira livre e a voar por aí. Gosto, enfim, de ter o peito ocupado e a mente em sintonia, os dias largos diante de mim como páginas em branco, prontas a serem recortadas em forma de coração. Gosto do momento em que acredito "desta é que é", de me determinar a fazer acontecer, de dar o peito às balas e confiar que o futuro de ali em diante me atingirá só com flores. Sinto falta disto. Sinto falta de estar apaixonada. Sinto falta de me compensar as horas enfadonhas do dia com a expectativa do porvir. Sinto falta de um nome que os meus lábios contam sem que eu lhes peça. Sinto falta do pensamento a desviar-se para um sinal do rosto, um jeito das mãos ou uma maneira suficientemente nova de dizer o meu nome que me permite ser eu e outra, toda nova, ao mesmo tempo. Sinto falta de saber exactamente o que me faz falta aqui e agora, em todos os aqui e agora. Não sinto falta nenhuma daquilo a que me reduzo quando percebo que... não deu certo. Mas sinto, neste momento, uma falta imensa de acreditar, como todas as forças, que, com aquela pessoa, exactamente aquela, seja ela qual for, vai mesmo, porque tem de ser, acontecer o para sempre.

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